Quem passa pela Avenida da França, no Comércio, não faz ideia, mas ali ao lado direito, por detrás dos muros do Porto de Salvador, está sendo tocada uma das maiores obras de infraestrutura da Bahia. Cerca de 700 trabalhadores trabalham na duplicação da área que abriga o Terminal de Contêineres (Tecon), operado pela Wilson Sons. Em ritmo acelerado, a primeira parte da obra, estimada em R$ 443 milhões deve ser concluída no próximo mês de abril.
Ontem, o Correio percorreu em primeira mão a área em ampliação. Em ritmo acelerado, os operários preparam o cais que vai permitir ao Porto de Salvador receber simultaneamente dois dos maiores navios em operação no mundo. Para se ter uma dimensão da obra, já foram colocados 18.795,8 metros quadrados de concreto, equivalentes a cerca de 46.989 toneladas do produto, além de 7.547 toneladas de aço. A empresa acredita que a expansão da área vai gerar até 100 novos empregos diretos. Atualmente, o Tecon emprega 670 trabalhadores diretamente.
Hoje, o terminal tem capacidade para movimentar até 430 mil contêineres de tamanho padrão por ano e após a ampliação, este número será ampliado para 925 mil. Com a obra, o diretor-executivo do Tecon, Demir Lourenço Júnior, acredita que a capital baiana será dotada de um dos maiores, melhores e mais modernos terminais de contêineres do país. “Este é um investimento que vai nos capacitar a operar embarcações que ainda nem estão no mercado”, explica.
Ele acredita com o novo berço, o Tecon será capaz de atender a demanda de movimentação de contêineres da Bahia até o ano de 2050. Contratualmente, a empresa deve iniciar as obras de aterramento da área atrás do cais até o ano de 2034, entretanto a aposta de Demir Lourenço é a de a dinâmica da economia vai demandar o adiantamento deste processo. “Não tenho qualquer tipo de dúvida de que teremos que fazer o investimento no aterro antes do prazo contratual”, aponta.
Além da implantação dos 400 metros de cais, a Wilson Sons está investindo também na aquisição de novos equipamentos para o Tecon. O terminal, que possui atualmente 11 pontes rolantes sobre rodas (RPGs), vai ganhar outras cinco. Esses equipamentos tem capacidade para movimentar até 41 toneladas, por vez no pátio do terminal. Além disso, os seis guindastes gigantes, chamados de portêineres, que são usados para a retirada de carga dos navios, ganharam a companhia de três novos equipamentos, com maior capacidade de movimentação.
Atualmente, o Tecon possui três portêineres com 28 metros de altura e capazes de avançar até 38 metros em direção ao mar. Eles são chamados de Panamax, porque atendem a navios com dimensões para atravessar o Canal do Panamá, antes da sua ampliação. Hoje o Tecon possui também três guindastes Super Panamax, que movimentam em cargas de navios maiores que os Panamax. São 38 metros de altura e que podem avançar a até a 60 metros para dentro do mar.
Na área de ampliação, o Tecon deverá utilizar três novos super porteineres, desta vez com 51 metros de altura e 66 metros de largura. “São equipamentos que estamos trazendo para operarmos navios de até 400 metros de comprimento”, explica Demir Lourenço. Só para se ter uma ideia, as dimensões são compatíveis às de um prédio de 123 metros deitado.
Uma das vantagens do Tecon é o acesso terrestre. Apesar de localizado dentro da cidade, o porto tem uma ligação expressa com a BR -354. Além disso, a Bahia de Todos os Santos tem uma profundidade natural que facilita a entrada de grandes navios. O terminal se destaca como uma das principais portas de saída de produtos da indústria baiana, mas também como a entrada de insumos e equipamentos que viabilizam a expansão da energia limpa no Brasil. Nos últimos anos, o Tecon se especializou na movimentação de equipamentos utilizados para produzir energia eólica e mais recentemente solar.
“Nós tivemos um grande trabalho para treinar o nosso pessoal a lidar com cargas de alto valor agregado e ao mesmo tempo bastante frágeis”, conta Lourenço. Segundo ele, além de receber equipamentos que serão utilizados na Bahia, pelo terminal chegam produtos para parques em outros estados do Nordeste. “Aqueles hubs ali vão para o Piauí”, aponta em direção a uma espécie de parafuso gigante que conecta as peças dos aerogeradores.
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