Salvador amanheceu vestida de branco e o povo em festa vai a pé a Colina Sagrada dar graças ao Senhor do Bonfim e a Oxalá. A lavagem do Bonfim é uma festa única, pois nela louva-se ao mesmo tempo Jesus Cristo e Oxalá, naquela que é a maior manifestação de sincretismo religioso do mundo. Em que outro lugar a tradição católica abraça a tradição pagã para juntas homenagear seus deuses? Em que lugar do mundo uma festa de pagã ocorre no adro de um igreja católica? É tão bela e tão ecumênica a Lavagem do Bonfim que deveria ser mostrada mundo afora, como uma celebração única, algo tão singular e especial quanto a Festa de São Firmino em Pamplona, a Oktoberfest em Munique ou o Holy Festival na Índia. E, se assim for feito, a Lavagem do Bonfim vai tornar-se o ápice do turismo religioso em Salvador. Desde 1745, a cidade da Bahia vive sob as graças do Senhor do Bonfim e de Oxalá e nela se mistura a história, a política, a música, a cultura e a vida desta cidade. Em 1944, por exemplo, em plena segunda guerra mundial, Jorge Amado fez uma louvação a festa dizendo que ali se misturavam os “cantos religiosos em estropiado latim aos cânticos negros do candomblé ” e afirmou que ali não havia lugar para o pecado, pois o demônio de há muito havia debandado para o exército nazista. E Jorge Amado viu nos ombros das baianas que carregavam flores o V da vitória “um grande V de flores, que o povo depositava aos pés do santo” pedindo ao Senhor do Bonfim e a Oxalá a vitória dos exércitos aliados.
A Bahia é uma nação e sua identidade está dada pela comida, pela história, pela música, pela religião, pelo patrimônio, pelo jeito de ser e de falar e pelas festas, como a do Bonfim e de Iemanjá, que são manifestações populares do que somos. E se o carnaval é o clímax da nossa alegria, a festa do Bonfim é o apogeu da nossa baianidade. E é por isso que o povo de Salvador já está nas ruas, para louvar seus deuses, banhar-se com a água de cheiro e amarrar no pulso a fitinha do Bonfim. Aliás, trocando em miúdos, Chico Buarque e Francis Hime jamais deviam ter deixado a medida do Bonfim, sequer na separação, pois ela nunca perde a valia e representa o encontro dos deuses e dos desejos na cidade da Bahia.
LUIZA MAHIN
E já que estamos falando em festa, gostaria de agradecer aos leitores que praticamente esgotaram a 1ª tiragem do meu livro “Luiza Mahin” e enviaram dezenas de e-mails com comentários elogiosos sobre a história da nossa guerreira negra, linda, sensual e forte como a Bahia. Através desses e-mails, descobri que Luiza Mahin, além ser homenageada em toda a parte em Salvador, é nome rua em Embu das Artes e em Curitiba e nome de praça na Freguesia do Ó, na cidade de São Paulo. E aproveito a oportunidade para informar que o livro pode ser encontrado na Amazon, nas Livrarias Saraiva de todos os shoppings de Salvador e na simpática livraria Mídia Louca, no Rio Vermelho e no Pelourinho.
POLO SUCROALCOOLEIRO
Um projeto concebido pelo governo do Estado para a Bahia em 2020 pode fazer uma revolução econômica na região do Médio São Francisco. Trata-se do Polo Bioenergético e Sucroalcooleiro que visa implantar 10 usinas de cana-de-açúcar, para produção de etanol, açúcar e energia de biomassa, e a primeira delas já está sendo construída pelo Grupo Paranhos. O pulo do gato do projeto está na produtividade da cana na região, que chega a ser 3 vezes maior do que qualquer lugar no país. E além das usinas estão previstos projetos agropecuários e dezenas de outras intervenções. O desafio do governo será viabilizar a infraestrutura básica, especialmente estradas e energia.