O ex-deputado Eduardo Cunha (MDB-RJ) atribuiu irregularidades a cerca de 120 políticos e declarou ter arrecadado R$ 270 milhões em um período de cinco anos, em uma fracassada tentativa de fechar um acordo de delação na Lava Jato. O valor teria sido dividido com correligionários e aliados. Preso há três anos, Cunha entregou sua proposta de delação a procuradores em meados de 2017, no entanto, os relatos foram considerados pelos investigadores superficiais demais e não houve acordo.
Um dos arquivos com a proposta de delação foi compartilhado entre procuradores que discutiam a possibilidade de delação em um chat do aplicativo Telegram, em julho de 2017. O documento integra o material enviado por fonte anônima ao site The Intercept Brasil, que foi analisado pelo site e pela Folha. Na delação, Cunha narra supostas irregularidades e tentativas de extorsão no seu processo no Conselho de Ética da Casa, iniciado em 2015, que resultou em sua cassação. As irregularidades não foram comprovadas pelo ex-deputado.
Ele afirma que o então chefe da comissão, José Carlos Araújo (PL-BA), teria cobrado pagamento para que ele escolhesse o relator. Segundo Cunha, houve fraude no sorteio que definiria uma lista tríplice de onde seria escolhido o relator por Araújo. “A escolha era feita por sorteio, mas se colocou dentro da urna bolas mais pesadas nos nomes escolhidos pelo colaborador para serem os três sorteados, dos quais um seria o escolhido, método sempre usado por ele [Cunha] para vender relatoria”, diz trecho da delação fracassada.
Porém, imagens da época mostram que o sorteio não foi feito por meio de bolas e sim por papéis colocados em uma urna e anunciados publicamente. A defesa de Cunha disse que sua negociação trazia “elementos robustos em relação a inúmeros fatos e pessoas”, o que poderia ter ajudado o MP em várias investigações, mas afirmou que não iria se manifestar mais detalhadamente por não ter acesso às mensagens. O ex-deputado José Carlos Araújo sustenta que foi vítima de aliados do ex-deputado que tentavam tirá-lo da direção do Conselho de Ética. “Ele tinha muito poder. Quem seria louco de tentar extorquir Eduardo Cunha?”
Procurada pela Folha, a força-tarefa da Lava Jato afirmou que, no caso da proposta de colaboração de Cunha, houve consenso entre mais de 20 procuradores à época. “Relatos de colaboradores avaliados como inconsistentes, incompletos ou desprovidos de provas podem ser recusados. Eles podem ainda ser reavaliados em nova negociação de acordo, se o colaborador trouxer provas”, diz o comunicado.
Foto : Antonio Cruz/ Agência Brasil