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FESTIVAL DE HUMOR NEGRO FAZ PÚBLICO RIR COM ARTISTAS NEGROS

Redação - 20/12/2019 10:44

Não ser o motivo da chacota, mas proporcionar o riso. Essa é a grande proposta do Festival de Humor Negro, que acontece de hoje a domingo no Teatro Jorge Amado. Provocativo desde o nome, o evento questiona o porquê de classificarmos o humor macabro como “negro”, e o desloca para o protagonismo de pessoas negras fazendo humor. “O festival e os humoristas que convidamos para essa primeira edição estão aí para provar que a gente pode contar nossa história, falar do que a gente vive, sem ser a chacota, sem estar naquele lugar caricato e depreciativo”, explica a produtora Val Benvido, idealizadora do evento.

A baiana Maíra Azevedo abre a programação hoje com o talk show De Cara com Tia Má. Amanhã, o palco ficará por conta da carioca Luana Xavier, estreando em Salvador sua comédia Luana no País das MaravilhasO encerramento do Festival Humor Negro no domingo será feito pela dupla Sulivã Bispo e Thiago Almasy, mais conhecidos como Júnior e Mainha – na peça Na Rédea Curta. Os ingressos já estão sendo vendidos no site Ingresso Rápido e custam R$ 50 (individual) e R$ 120 (passaporte para os três dias).

“A pauta racial está presente na linguagem, texto, cenário, figurino dos três espetáculos, e é isso que queremos pautar, visando resignificar algumas expressões populares”, explica Benvindo, para quem é mais fácil transformar o entendimento acerca das expressões que retirá-las do vocabulário de forma impositiva.

Para Thiago Almasy, a realização do festival reflete uma mudança de pensamento. “Já passou da hora de transformar os modos como fazemos graça. O Na Rédea Curta está muito ligado a isso, aliado a uma nova forma de dar protagonismo a pessoas negras”, comenta.

Parceiro de Thiago em cena, Sulivã Bispo diz que dignificar a cultura identitária do povo negro através do humor, não é um dever, e sim uma missão. “Somos carentes do humor negro, de um humor que fale bem da nossa etnia, enalteça os nossos hábitos, fale dos nossos costumes com graça, e não os ridicularize. Se hoje sou humorista, é porque tive referência. Grande Otelo precisou existir, quebrar os paradigmas da opressão e ser meu ídolo. Tenho consciência de que sou continuidade, e faço da comédia um punho cerrado contra a discriminação”, defende.

O fato de o evento acontecer no Teatro Jorge Amado também é celebrado pelos artistas. “Esse palco se tornou um amuleto de sorte para mim. Foi ali que subi pela primeira vez no palco como humorista, então eu me sinto extremamente responsável por fazer aquela plateia rir. Eu estou muito feliz, e espero que o povo vá para lá, tirar o sapatinho e botar o pé no chão, e acompanhar o De Cara Com Tia Má”, convida.

Única artista de fora da Bahia, a carioca Luana Xavier foi convidada para apresentar o evento, já que não tinha nenhum espetáculo pronto, mas em um mês, decidiu preparar uma obra inédita. “O espetáculo surgiu de uma conversa com um amigo roteirista, na qual a gente falava de como é mais difícil as pessoas negras fazerem acontecer, mesmo com todo talento. As oportunidades são muito menores para nós, então pensamos em criar um mundo diferente, onde ocorresse o inverso, e ele criou esse mundo das maravilhas para mim”, lembra Luana Xavier.

Para ela, que não vem do humor, uma responsabilidade muito grande. “Eu sou uma atriz, e estou me aventurando no humor. Acho que ele acaba perpassando a minha vida e a minha carreira, mas não de uma forma tão direta quanto neste espectáculo”, pondera.

*foto: divulgação

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