No alvorecer do dia 25 de janeiro de 1835, quase mil negros, vestidos com batas brancas e armados de facões, navalhas e parnaíbas, tomaram de assalto as ruas da cidade do Salvador com o objetivo de libertar os escravos. Foi o maior levante de escravos em área urbana no Brasil e teve uma característica única: era liderado por negros mulçumanos alfabetizados, que planejaram a insurreição em detalhes, mapeando o sítios que seriam atacados, definindo objetivos e criando um banco que financiou a revolta. E, além disso, havia uma mulher, uma princesa de nome Luiza Mahin.
Por muitos anos, a historiografia desdenhou esse movimento, que ficou conhecido como a Revolta dos Malês, e quando lhe deu a devida importância não reconheceu a existência de uma liderança feminina. Mas, apesar da escassez de registros sobre Luiza nos arquivos e documentos, a força dessa mulher é tal que ela está presente na história oral da Bahia, é nome escola e de coletivo em Salvador e de praça em São Paulo e é cultuada como símbolo de liberdade.
E outra questão intriga os estudiosos: os negros muçulmanos formavam um pequeno número na imensa população de negros da Salvador do século XIX e eles tiveram de unir-se a outras nações para dar curso a uma revolta daquela magnitude. Que estranho desiderato foi capaz de unir negros que veneravam Maomé com aqueles que reverenciavam os Orixás? Talvez o desejo de liberdade, diria um estudioso, ou talvez a força de uma liberta alfabetizada, adorada na cidade e talvez amante do líder muçulmano de nome Ahuna, diria o romancista. E como a licença poética tudo permite, Luiza Mahin vai tornar-se o elo de ligação entre os muçulmanos e as outras etnias, explicando o inexplicável traço ecumênico que existe na revolta.
Ora, mas sequer está provado que Luiza Mahin existiu. Isso não tem a menor importância. O que importa é o símbolo da mulher livre que ela representa e seu papel libertador na saga dos negros africanos. E foi o carisma dessa mulher, que traz no sangue a sensualidade das heroínas de Jorge Amado e a força das negras que morreram lutando pela liberdade, que fez surgir meu novo livro, cujo lançamento será na próxima terça-feira, 17, na Livraria Saraiva do Shopping Salvador e para o qual convido meus amigos e os leitores de A Tarde.
A BARRA E O IPHAN
Não é só o mega-carnaval de trios elétricos e camarotes o culpado pela degradação das construções na Barra, o Iphan – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional também é responsável. Na semana passada, o órgão baixou uma portaria que transforma o bairro em um museu da degradação urbanística, pois determina critérios para edificações e intervenções que tornam impossível a revitalização dos prédios no local. O Iphan não percebeu que em qualquer lugar do mundo, há flexibilização de normas para permitir a construção de hotéis e prédios residenciais de modo a tornar compatível a preservação do patrimônio com o retorno dos investimentos.
AS TAXAS E OS BANCOS
O cidadão passou os olhos no extrato do seu cartão de crédito e ficou estupefato ao ver que o preço da anuidade cobrada era de quase mil reais. Depois verificou que os bancos cobram tarifas de até a 70 reais por mês para manter a conta e, além disso, a depender do pacote, cobram por saques, transferências, cheques e toda e qualquer movimentação. Ficou matutando: vale a pena pagar tanto para o banco ganhar com meu dinheiro? Não precisou responder. Pegou o celular e transferiu sua conta para um banco digital com tarifa zero. No Brasil já existem muitos deles, a exemplo do Nubank, Pagseguro, Mercado Pago, Neon e outros.
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