Muitas fábricas estão sendo paralisadas no Brasil devido às dificuldades de superação dos problemas e dos complicadosdesvios das adversidades encontradas pela frente. As causas da desindustrialização estão relacionadas à capacidade que tem uma unidade industrial de conviver com a concorrência nacional e internacional. Os motivos apontados são: a escala de produção, com reflexos diretos no custo unitário de fabricação; a atualização tecnológica, com impacto sobre a produtividade; a obsolescência do produto, por desuso ou introdução de outro mais eficiente no mercado; e os custos elevados da matéria prima, carimbando na saída a impossibilidade de vencer a guerra da competição, entre outras razões.
A escala de produção na indústria intensiva de capital é um mal sem remédio. Os custos fixos passam a ser relativamente elevados quando comparados a unidades de maior capacidade produtiva onde os custos unitários de manufatura passam a ser menores. Mesmo operando a usina a plena carga não se consegue tornar o custo inferior. No Polo Industrial de Camaçari várias unidades foram fechadas por esse motivo: uma de resina ABS por ter uma capacidade instalada de 30 mil toneladas por ano (t/ano) quando se viu diante de uma coreana dimensionada para um milhão de t/ano. Outra de caprolactama, mesmo tendo feito um desgargalamento que elevou sua capacidade de 30 mil t/ano para 57 mil, não conseguia enfrentar concorrentes de 500 mil, além de ver o náilon de seus clientes serem substituídos pelo poliéster, mais barato.
A atualização tecnológica tanto influencia o processo produtivo como as características do bem produzido. Algumas fábricas têm contornado esse problema realizando pesquisas, trocando informações, comprando conhecimentos no mercado ou mesmo participando de simpósios e conferências. Trabalhei numa unidade fabril em que havia uma reação de polimerização que era realizada em 12 horas. A troca dos aceleradores fez com que o tempo de transformar o monômero em polímero foi reduzido para duas horas e meia. A redução do custo foi significativa. Da mesma forma o náilon substituiu a seda em muitas aplicações, o fio acrílico tomou o lugar da lã de carneiro na confecção do vestuário, o filamento de poliéster compete com o algodão, o polietileno e o polipropileno passaram a ocupar o espaço de muitos outros plásticos.
Em relação ao custo da matéria prima temos vários exemplos. A carboquímica cedeu lugar à petroquímica não apenas por contribuir mais para a poluição atmosférica, mas também por ser mais cara, mais difícil de trabalhar e ser menos eficiente na obtenção do gás de síntese do que o gás natural. Não só algumas fábricas ficaram para trás na Alemanha, quando os Estados Unidos depois da Segunda Guerra instalaram a indústria petroquímica, mas vários parques estiveram ameaçados e correram para trocar rapidamente de matéria prima.
Exemplos de substituição de um produto por outros fazem parte de uma lista enorme. Quem não se lembra das portas de geladeira espessas com a isolação feita com cortiça antes do surgimento do poliuretano, que as tornou finas e ocupantes de menor espaço? E a rápida substituição da foto revelada em papel pela foto digital, fechando várias fábricas da Kodak? E da troca das famosas camisas “volta ao mundo”, fabricadas com náilon, rapidamente substituídas pelo tergal, quando o fio de poliéster se juntou ao fio de algodão? A batalha entre o uso do plástico nas embalagens, substituindo o vidro, continua correndo. Da mesma forma os plásticos de engenharia seguem substituído o aço e outras ligas metálicas no automóvel. O avanço do carro elétrico, menos poluente e mais silencioso, é outro exemplo.
As nossas empresas que a duras penas foram construídas, com participação de empresários, técnicos, políticos, governantes, financiadores, economistas, engenheiros e nos permitiram sentir o sabor de uma era industrial, não podem ser fechadas. O esforço para cada uma dessas unidades ameaçadas com a paralização, hibernação ou vítimas da desindustrialização, ou outro qualquer nome que se queira dar, continuem a funcionar, precisa ser feito por todos. Está na hora de descobrirmos os caminhos da reindustrialização.
Adary Oliveira é engenheiro químico e professor – [email protected]