Casos de intolerância religiosa cresceram 81,4% em Salvador neste ano. Em 2019, já foram registrados 127 casos de intolerância pelo Grupo Especial de Proteção aos Direitos Humanos e Combate à Discriminação do Ministério Público da Bahia (MP-BA), que acompanha as denúncias. Mesmo antes de o ano terminar, o número de 2019 já supera em 57 casos se comparado a 2018, quando 70 denúncias foram registradas.
Ainda segundo o MP, 90% dos casos de intolerância atingem as religiões de matriz africana. Os dados do Aplicativo Mapa do Racismo e da Intolerância Religiosa mapeiam toda a Bahia. Entre novembro de 2018 e novembro de 2019, foram registrados 45 casos de intolerância que atingiram religiões de bases africanas. Três casos atingiram religiões cristãs evangélicas. Houve também o registro de 1 caso de intolerância contra adeptos do islamismo e ateus.
Recentemente, um caso de intolerância chamou atenção dos soteropolitanos quando o navio Logos Hope pediu orações para proteção e associou Salvador a “espíritos e demônios’. Por conta da postagem, a empresa precisou celebrar um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) com o próprio MP e teve de publicar um vídeo justamente sobre o tema. Narrado pela jornalista Rita Batista, o vídeo será divulgado também nas emissoras locais. Um pedido de desculpas oficial foi publicado pela Operação Mobilização Brasil (OM Brasil), responsável pelo Logos Hope, em dois jornais impressos.
A gravação traz falas de líderes de diferentes religiões na Bahia. A ialorixá Jaciara Ribeiro, do Ilê Abassá de Ogum, e Ana Gualberto, da organização Koinonia, aparecem representando as religiões de matriz africana. Cenas dos orixás no Dique do Tororó são destacadas e também é citado que essas são as religiões que mais sofrem discriminação no país. No último sábado (30) um terreiro em Lauro de Freitas foi surpreendido por agentes da prefeitura após uma denúncia de som alto. Quinhentas pessoas participavam da festa do caboclo Sultão das Matas. Os vizinhos do local teriam se incomodado com o barulho produzido pela celebração.
O babalorixá Anderson Argolo de Oxalá, líder do terreiro Ilê Axé Alá Obatalandê, em Lauro de Freitas, espera uma retratação da administração municipal. Embora não tenha sofrido agressões físicas ou verbais, Anderson argumenta que algo do tipo não aconteceria num culto frequentado por homens brancos – a quem, reforça, “tem de todos o respeito”. O Ministério Público não enviou o número de casos de intolerância religiosa em outras cidades da Bahia, como Lauro de Freitas. (Correio)
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