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ADARY OLIVEIRA: PARA ONDE ESTAMOS INDO

Redação - 11/11/2019 08:36

A Teoria Geral de Sistemas (TGS) teve seus primeiros ensaios publicados por Ludwig von Bertalanffy entre 1950 e 1968. Partindo de seus pressupostos básicos, da tendência para a integração entre as ciências naturais e sociais, da maneira mais abrangente de estudar os campos não físicos do conhecimento científico, do desenvolvimento de princípios unificadores que atravessam verticalmente os universos particulares das diversas ciências envolvidas, a TGS revela que os sistemas são constituídos de elementos relacionados entre si por leis não triviais e de difícil compreensão, e que a alteração da tendência de equilíbrio por mudança de valor de uma ou mais vaiáveis de um deles, resulta na rearrumação de todo o sistema.

Na Administração estuda-se os Sistemas Econômicos, os Sistemas Operacionais, os Sistemas Financeiros, os Sistemas Políticos, e tantos outros preceitos da nossa vida cotidiana. O fato de os elementos constitutivos de um sistema estarem interligados com os demais, recomenda cautela ao se fazer uma modificação em um deles, pelo risco existente de alterar substancialmente todo o sistema, sendo às vezes quase impossível prever os acontecimentos futuros. Atualmente estão sendo introduzidas várias alterações simultâneas na sociedade brasileira que resultarão em mutações em suas diversas partes características. Comento a seguir algumas dessas modificações.

A alteração introduzida pelo Supremo Tribunal Federal (STF) que considerou inconstitucional a prisão após a condenação em segunda instância repercute em vários sistemas da sociedade brasileira. O próprio placar da decisão (6×5) mostra a divisão do meio jurídico, longe da unanimidade. O sistema político será um dos mais afetados por estabelecer de forma mais nítida o antagonismo de suas forças e a antecipação das campanhas eletivas no âmbito federal. Os parlamentares reagem prometendo colocar em votação alguns projetos que alteram a Constituição Federal, procurando corrigir definições carentes de clareza e passíveis de interpretações adversas. No mundo econômico, apesar da inflação baixa, das taxas de juros reduzidas e indícios de retomada do crescimento econômico, novos negócios são adiados fazendo os investidores darem uma meia trava na velocidade de seus planos, para melhor observarem a tendência dos acontecimentos e em quanto tempo ocorrerá a próxima posição de equilíbrio.

Outra modificação sistêmica ocorreu no mundo do petróleo. A exploração do petróleo e gás de folhelho (shale oil and gas) por fraturamento hidráulico, fez com que os Estados Unidos passassem de maior importador mundial de petróleo para maior exportador, ultrapassando a Arábia Saudita, limitando o poder da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) e reduzindo o preço de petróleo. Isso terminou repercutindo na Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) cuja frustação de venda, de cessão onerosa e de partilha, concluiu por afetar a receita esperada pelo governo e exigir mudanças nas regras de concessão para exploração de óleo e gás.

A reforma da previdência social, com impacto direto no bolso dos trabalhadores, embora seu efeito seja mais de médio e longo prazos, tornou-se imperativa e inadiável sob pena das três esferas do governo entrarem em colapso. O desejo de melhorar a vida dos brasileiros, principalmente aposentados e pensionistas, estabelecido na Constituição Federal, tornou-se insustentável, diante da falta de recursos arrecadados e da certeza de que a tendência desses recolhimentos se mostrava declinante. O freio de arrumação ainda não chegou, mas vai trazer desequilíbrio em muitas planilhas orçamentárias domésticas.

Cada uma das novas modificações propostas pelo executivo e que serão apreciadas proximamente pelos parlamentares, trarão melhoras para a comunidade brasileira e passarão pela análise críticas dos políticos, economistas e administradores. Contudo, qualquer alternativa de mudança promoverá alterações nos sistemas da vida habitual, impossíveis de serem antevistas com exatidão, sendo mesmo incerto saber para onde estamos indo.

Adary Oliveira é engenheiro químico e professor – [email protected]

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