Dados do IBGE que apontam um inesperado crescimento de 0,4% do PIB no segundo trimestre de 2019, em relação ao trimestre anterior, surpreendeu até mesmo os naipes mais otimistas do mercado. Porque foi no susto. Na verdade, pelo andar da carruagem – de fogo – esperava-se uma queda ou até mesmo um novo “caldo” da economia na onda da recessão, a considerar esse início tumultuado de gestão, um tanto confuso e com excesso de falas desconexas. Mas eis que surge um alegre 0,4% de crescimento quando a expectativa não passava de um tímido 0,1% ou no máximo 0,2%.
A pergunta que insiste em se manter em evidência – por mais que não se queira -, passa pelas expectativas da Reforma da Previdência. Seria o caminhar da reforma o vetor responsável pelo resgate da confiança e da recuperação, ainda que lenta, lentíssima, dos investimentos? Barbas de molho porque ainda é cedo para qualquer prognóstico e nunca tarde para a formação de bolhas que podem explodir bem ali adiante. A economia brasileira está em maus lençóis e é unanimidade entre os especialistas que será necessário bem mais que a Reforma da Previdência para que o país ganhe força, fôlego e retome a escalada rumo ao topo de onde começou a despencar com uma velocidade bem louca. Entre 2015 e 2016 o PIB brasileiro encolheu nada menos que 6,9% e nos anos 2017 e 2018 registrou um mísero crescimento de 1,1%.
Alguns países na lista dos mais pobres do mundo, com baixos índices de desenvolvimento humano e economias pouco complexas, vêm registrando crescimento vigoroso bem maior que o do Brasil e, por tabela, maior que o de outros “diferentões” da economia global. Isso nos leva a concluir que os males que nos assolam não tem nada a ver com ser pequeno, pobre ou desprestigiado. Tem a ver com gestão! Países da Ásia e da África como Etiópia, Uzbequistão, Nepal, Laos, Camboja, Tanzânia, Filipinas, Myanmar, Djibut (pouco se ouve falar de alguns), entre outros, registraram nos últimos anos impressionantes taxas de crescimento em torno de 6,9% a 8,3%, conforme dados levantados pelo Banco Mundial – Bird. O que esses pequenos países têm em comum com a China e com a Índia – nações que tornaram-se economias monumentais nos últimos anos -, e que o Brasil não consegue ter? Estratégias inteligentes que incluem controle das contas públicas, reformas econômicas e política, investimento pesado em infraestrutura, em modernização, em educação, pesquisa e tecnologia, além de liberalização comercial. Ponto.
A Índia, uma das maiores estrelas de crescimento das últimas décadas, anunciou recentemente novas reformas para impulsionar seus mercados e, mesmo com a desaceleração e instabilidade na economia global, apresentou crescimento de 5% nos últimos 12 meses, embora seja esta a menor marca dos últimos seis anos de uma nação cheia de autoestima e que não cansa de alimentar uma imagem positiva de si mesma, apesar das gritantes contradições e das enormes dificuldades estruturais que ainda enfrenta. Já a China, a despeito da guerra comercial que trava com os EUA registrou no segundo semestre de 2019 um crescimento de 6,2%, menor que o PIB do primeiro trimestre (6,4%) mas ainda dentro da margem estabelecida pelo governo de Pequim. China conquistou o título de segundo maior economia mundial de forma espetacular nas últimas quatro décadas, justamente quando o país comunista decidiu implantar uma política de reformas, abertura e integração gradual à economia mundial, além de aumento vigoroso dos investimentos em modernização da indústria, tecnologia, defesa nacional e agricultura. E a China segue cheia de autoconfiança com ares de quem quer bem rapidinho sentar no trono como a maior potência mundial.
LOUCA AUTOFAGIA
Enquanto isso, o Brasil vai perdendo a sua felicidade. Economia estagnada, taxas alarmantes de desemprego, índices altíssimos de violência, infraestrutura em decadência, atraso tecnológico, descaso com a vida humana resultando em tragédias como a de Brumadinho, além de clima inútil de polarização política nas redes sociais. Essas são algumas razões, segundo o instituto de pesquisa IPSOS, que estão afetando o humor do Brasil e deixando a sua gente infeliz. O estudo aponta que em 2018, 73% dos brasileiros se declararam felizes. Em 2019houve uma queda de 12 pontos percentuais para 61%. Entretanto, mesmo diante desse quadro de infelicidade nativa geral e com os exemplos clássicos de países que promoveram mudanças cruciais, saíram dos destroços e se reconstruíram com sustentabilidade, os brasileiros ainda patinam em rotos debates, usando argumentos ideológicos para combater reformas fundamentais que podem tirar o país do atraso e conectá-lo com o futuro moderno que estar por vir.
Uma inscrição precisa ser cravada em letras garrafais no quadro dinâmico da mente brasileira. Sem uma agenda de reformas, muito além da reforma previdenciária, não haverá misericórdia para o Brasil. No tapa? Sem reforma tributária, trabalhista e política – porque essa, fora o arremedo que se viu, nem de longe aconteceu – não haverá no país o desenvolvimento sustentável que se espera, nem modernização, nem crescimento, nem qualquer alargamento positivo nos indicadores de desenvolvimento humano. Para além das narrativas ideológicas – direita, esquerda, volver – o brasileiro precisa pensar saudável e egoisticamente em si, em seu bem estar, em sua prosperidade, no legítimo direito que tem de ampliar a qualidade de vida e cobrar, aí sim, que o Estado lhe garanta, lhe assegure isso.
O país precisa abandonar urgentemente essa louca autofagia e resgatar o clima positivo, o mesmo que faz com que a Índia, por exemplo, país repleto de mazelas e contradições até mais que o Brasil, avance em suas conquistas e equilíbrio econômico. A percepção global positiva da Índia vem da autoestima dos indianos. Não alimentam qualquer previsão catastrófica sobre o país. Ao contrário, como bons marqueteiros projetam o melhor que têm. Porque ambicionam o sonho da felicidade.
Por aqui, parecer haver um triunfo quando as más notícias sobre o Brasil emolduram as capas das grandes mídias internacionais. A depender da veia ideológica, há festa, há aplausos. Assim vem sendo com as reformas que precisam ser efetivadas para o país andar. Haverá sempre resistências e protestos a depender do naipe político que esteja no poder. Se tomarmos como lição o que foi feito nos países que hoje dão show de crescimento e ampliam cada vez mais a renda e a qualidade de vida de seu povo, vamos aprender que não existe reforma festiva a todos. Haverá sempre os descontentes e, via de regra, os menos visionários que se acomodam a um estado de coisas e situações, apegando-se a benefícios que tornaram-se pequenos, curtos e que podem, inclusive, desaparecer ao longo do tempo. Sem medo de ser feliz, o Brasil precisa enxergar que o futuro pode ser ampliado, melhorado, modernizado e que os benefícios de hoje podem avançar em perspectivas maiores, dando espaço a uma realidade empreendedora que circula na veia do país e pode resultar em pessoas que se aperfeiçoam, ascendem, crescem e quebram o maldito pires da mendicância estatal.
Fonte: IBGE | Ibre/FGV | Dow Jones Newswires