O risco Brasil, medido pelo Credit Default Swap (CDS), um título que protege contra calotes na dívida soberana, vem registrando nova rodada de queda e está em 116 pontos. É o menor nível em seis anos, desde maio de 2013. Mas outros ativos brasileiros, principalmente o dólar e a Bolsa, não estão acompanhando o movimento de melhora de percepção dos investidores sobre o País. Economistas e gestores ouvidos pelo Estadão/Broadcast avaliam que este “descolamento” mostra que os investidores estão antecipando um cenário doméstico melhor pela frente, mas, no momento, ainda seguem cautelosos e não vão aportar recursos em ativos locais sem maior crescimento econômico e avanço de outras reformas, inclusive o término da Previdência.
Historicamente, o CDS, o dólar e o Ibovespa têm correlação próxima – sendo que câmbio e risco costumam caminhar na mesma direção -, mas desde o segundo semestre do ano passado os comportamentos passaram a divergir. Um ex-diretor do Banco Central calcula que, com o CDS na casa dos 120 pontos, como agora, era para o dólar estar em R$ 3,60 ou abaixo. Mas a moeda está em R$ 4,10 e a visão dos especialistas é a de que não deve cair para abaixo de R$ 4 tão cedo. Para o mercado de ações, a avaliação é que, com o CDS neste nível, o Ibovespa deveria, pelo menos, estar acima da pontuação atual – que tem ficado entre 103 mil e 104 mil pontos nos últimos sete pregões.
Lucas Tambellini, estrategista de renda variável do Itaú BBA, afirma que, após vários anos com excesso de liquidez global, os contratos de CDS de vários países estão perto das mínimas históricas. No caso do Brasil, o nível de risco tem caído também diante da sinalização de melhora do lado fiscal. “No passado, a correlação era mais forte, mas estamos agora em um momento descolado. Na questão cambial, a taxa está se comportando de maneira diferente por motivos externos, uma vez que o dólar está forte praticamente contra o resto do mundo”, diz.
Para o economista-chefe do Bradesco, Fernando Honorato Barbosa, as taxas do CDS mostram que “a solvência externa do Brasil está sendo vista como positiva”. Segundo ele, no entanto, o que falta para o estrangeiro entrar aqui é crescimento econômico. “O Brasil não tem PIB para mostrar ao investidor estrangeiro”, afirma. O Bradesco calcula que o País perdeu ao redor de US$ 50 bilhões nos últimos meses de recursos externos. Três fatores têm contribuído para este movimento, segundo o economista do banco. A redução do diferencial de juros entre o Brasil e os Estados Unidos, que pode diminuir ainda mais esta semana, deixando o país menos atrativo para os estrangeiros. O outro é que muitas empresas passaram a trocar dívida externa por dívida em real, por conta dos custos atrativos de captar recursos no mercado de capitais brasileiro. Um terceiro ponto que ainda pesa é o fato de o Brasil não ser mais classificado como grau de investimento, o que impede determinados investidores de aplicar no País.
De acordo o Itaú BBA, na ausência de boas notícias externas, principalmente em relação à guerra comercial, o real deve permanecer depreciado. Assim, a instituição projeta o dólar a R$ 3,80 em 2019 e R$ 4 em 2020, indicando, porém, que a moeda poderá se estabilizar próximo aos patamares atuais, na ausência de acontecimentos positivos na economia global.
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