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NO MEC, RIBEIRO TERIA AUTORIZADO PROPINA EM PNEU

Redação - 23/09/2022 13:17 - Atualizado 23/09/2022

A gestão do ex-ministro da Educação Milton Ribeiro, afastado por corrupção e que chegou a ser preso pela Polícia Federal, autorizou um pagamento de propina, com dinheiro que deveria entregue em dinheiro vivo para ser escondida na roda de uma caminhonete que levaria os valores de Belém (PA) até Goiânia (GO).

A informação foi dada ao Estadão pelo empresário do setor da construção civil Ailson Souto da Trindade, candidato a deputado estadual pelo Progressista no Pará. 

Os pedidos de propinas eram feitos pelos pastores Gilmar Santos e Arilton Moura, que também chegaram a ser presos pela PF, que tinha interlocução dentro do MEC para agilizar que contratos de obras federais de escolas fossem negociados em troca de reformas de igrejas. 

A denúncia traz novos elementos para o inquérito que tramita sob sigilo no Supremo Tribunal Federal (STF) por indícios de interferência de Jair Bolsonaro (PL) na investigação contra o ex-ministro da Educação. O caso já resultou na prisão de Milton Ribeiro e de dois pastores. 

O empresário deu detalhes do esquema de corrupção na pasta em entrevista gravada concedida ao Estadão. Ele relatou que o ministro teria dito que ele precisaria em troca “ajudar” a igreja dos pastores. O acerto, diz Ailson da Trindade, foi lhe dito em seguida pelo pastor Gilmar: o repasse de R$ 5 milhões em dinheiro vivo.

“Funcionou assim: o ministro fez uma reunião com todos os prefeitos (no prédio do MEC, dia 13 de janeiro de 2021). Depois houve o coquetel, num andar mais acima. Lá, a gente conversou, teve essa conversa com o ministro. Eu não sabia nem quem era o ministro. Ele se apresentou: ‘Eu sou Milton, o ministro da Educação, e o Gilmar já me passou o que ele propôs para você e eu preciso colocar a tua empresa para ganhar licitações, para facilitar as licitações. Em troca você ajuda a igreja. O pastor Gilmar vai conversar com você em relação a tudo isso’, relata o empresário.

A propina seria mascarada por meio de um contrato fictício firmado entre a igreja de Gilmar e a empresa de Trindade. Para que as obras fossem garantidas, o primeiro repasse deveria ser quase imediato. 

“Eles queriam R$ 5 milhões em dois dias. Eu falei: ‘mas eu não posso fazer esse tipo de negócio, eu sou empresário, eu não vou fazer uma coisa assim sem nenhum contrato’. E eles queriam que eu colocasse no pneu de uma caminhonete e mandasse para lá. Eu disse: ‘não, gente, vamos fazer em conta porque como é que eu vou saber… se não der certo, como vou provar que eu paguei?’ Aí eu fiquei com medo desse tipo de negociata. Daí queriam 5 milhões logo e depois de 15 dias queriam mais R$ 50 milhões”, disse o empresário. 

Após o escândalo, Trindade conta que telefonou para o pastor Arilton Moura pedindo para que tivesse o nome poupado, uma vez que não deu continuidade ao esquema.

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