O PSL vai implantar uma espécie de “filtro” ideológico para definir quem serão seus candidatos nas próximas eleições e evitar que nomes considerados desalinhados ao governo Jair Bolsonaro representem a sigla. A medida ocorre após cobrança do próprio presidente, que exige o “enquadramento” de parlamentares que discordem de ações da sua gestão. Nesta terça-feira, 13, um desses dissidentes, o deputado Alexandre Frota (PSL-SP), foi expulso da legenda.
A medida foi vista internamente como um gesto de “purificação” do partido, que tenta se associar ainda mais à imagem do presidente da República. Além de “filtrar” novos filiados, o partido quer “enquadrar” os que não seguirem à risca as diretrizes do partido. Ainda não está definido como e quem fará o pente-fino nos nomes que poderão concorrer pelo PSL.
Um grupo do partido defende a contratação de uma consultoria externa especializada em compliance, enquanto outro quer a criação de uma espécie de conselho, formado por nomes da própria sigla. Compliance é um termo empresarial que se refere a uma série de regras adotadas para certificar que funcionários estão agindo em conformidade com a legislação e os códigos de ética da empresa.
“É uma medida para dar uma cara de novo ao PSL. A gente tem de saber quem está vindo se candidatar pelo partido. Temos de saber se ele é ficha-limpa, qual o passado político dele. Se não, daqui a pouco, vamos ver um esquerdista querendo se lançar só porque o partido cresceu e virou viável”, afirmou a deputada federal Carla Zambelli (SP).
No início do mês, o presidente do partido, o deputado Luciano Bivar (PE), se reuniu com Bolsonaro no Palácio do Planalto a portas fechadas. Lá, o dirigente do PSL foi cobrado a “enquadrar” os deputados do partido que discordam do governo. O presidente disse ainda a Bivar que era necessário afinar o discurso da bancada e cobrou “unidade”. Em troca, Bolsonaro sinalizou ficar na sigla até 2022.
“Nós somos um partido do governo. O presidente é nosso filiado. Então, é óbvio que o partido tem de manter seus filiados e seus partidários em cima das orientações do governo. Quem não estiver satisfeito que…”, afirmou Bivar, fazendo com as mãos o sinal de sair. Antes de Bolsonaro se filiar, o partido era considerado nanico e elegeu apenas um deputado em 2014. No ano passado, foram 52.
Além da defesa do bolsonarismo, o candidato terá de assumir a pauta conservadora nos costumes, ser a favor da reforma do Estado e condenar o aborto e a chamada “ideologia de gênero”. Os filiados passam também por uma investigação do seu passado político e pelas publicações feitas em redes sociais. “Não poderá ter ligação com a esquerda. Do PT, jamais”, afirmou o deputado Coronel Tadeu (PSL-SP). Questionado sobre o caso do apresentador José Luiz Datena, cotado para disputar a Prefeitura de São Paulo pelo partido, mas que já foi filiado ao PT, Tadeu disse que a regra vai prever exceções. “Hoje, ele é declaradamente de direita.”