Uma baleia ferida e arpoada várias vezes pode fazer coisas que Deus duvida. Os tripulantes do baleeiro Essex sentiram isso na pela, quando caçavam baleias na costa de Massachusetts, nos Estados Unidos, no longínquo ano de 1820. Os marinheiros do navio de 27 metros estavam em alto mar quando viram um grupo numeroso de baleias e imediatamente lançaram seus arpões. Dezenas de baleias foram atingidas e, entre elas, um cachalote com de 26 metros, quase do tamanho do barco, que foi arpoado várias vezes e em cuja cabeça já havia muitas cicatrizes de outras baleações. Por mais surpreendente que possa parecer, pois baleias não atacam barcos, o cachalote ferido reagiu, foi em direção ao Essex e, para desespero dos marinheiros, atingiu em cheio o navio. Mais estranho ainda foi que, logo após o primeiro baque, a baleia afastou-se o suficiente para tomar impulso e, como se obedecesse a um objetivo racional, avançou a toda velocidade em direção ao navio quebrando-o no meio. Essa história, que deu inspiração a Herman Melville, um dos maiores escritores americanos, para que ele escrevesse o romance Moby Dick, mostra que as baleias, quando perseguidas, podem tornar-se perigosas e avançar sobre quem pretende dirigi-las.
Lembrei-me de Moby Dick ao ouvir o Ministro Paulo Guedes afirmar esta semana que o Brasil é uma baleia ferida que foi arpoada várias vezes, está sangrando e parou de se mover. “Não tem direita ou esquerda, precisamos retirar os arpões”, completou o ministro durante audiência na Comissão de Finanças de Tributação da Câmara. A metáfora parece interessante e, efetivamente, a situação da economia brasileira não comporta discussões ideológicas. O problema, no entanto, é que Guedes foi tomado por uma ideia fixa machadiana: a reforma da Previdência, e acha que ela será a panaceia que vai retirar os arpões e curar as feridas da nossa economia. A reforma da previdência é, sem dúvida, uma condição necessária para a retomada do crescimento econômico, mas não é suficiente.
É verdade que a aprovação da nova previdência acena com a estabilidade fiscal e aumenta a confiança dos agentes econômicos, mas para que ela volte a crescer de modo sustentável será necessário, entre outras, as seguintes ações: estabelecer um plano para a redução e simplificação da carga tributária; aumentar a produtividade das empresas; investir na qualificação da mão-de-obra; reduzir os subsídios em todos os níveis; injetar dinheiro novo no sistema; ampliar a integração aos mercados internacionais; investir na ampliação da infraestrutura; reduzir ainda mais a taxa de juros e estimular a competição no mercado de crédito e abrir a economia para assim combater os oligopólios e carteis que pululam por aqui. Nada disso está sendo tocado e o ministro argumenta que qualquer ação feita antes da reforma previdenciária apenas estimulará um voo de galinha, referindo a um crescimento rápido, mas que não se sustenta.
Pode ser que Paulo Guedes tenha razão, mas a baleia Brasil está parada não apenas por causa dos arpões que lhe foram atirados pelo governo incompetente de Dilma Rousseff, mas também porque os agentes econômicos seguiram a ideia fixa do ministro e estão todos em compasso de espera. Além disso, quem conhece os mares do Congresso Nacional, sabe que eles estão infestados de piratas, e que a reforma previdência já tem 277 emendas, o que significa que o governo pode ter de administrar uma reforma bem diferente daquela que apresentou.
O capitão Ahab, herói do romance Moby Dick, teve sua perna amputada num embate com a baleia branca e, secundado pelo imediato Starbuck, foi tomado por ideia fixa: vingar-se, matando o enorme mamífero. Nesse empreitada, destruiu seu navio e matou quase toda tripulação. O capitão Jair Bolsonaro confia plenamente no seu imediato Paulo Guedes, que tem como ideia fixa a reforma da Previdência e com ela espera curar a baleia ferida que eles chamam Brasil. Com esse único remédio podem até dar início ao processo, mas muito mais será preciso fazer para fazer para essa baleia deslanchar e isso tem de ser rápido, pois baleias desse tipo irritam-se facilmente ao ver que não saem do lugar.
PRODUÇÃO E VENDAS DE CARROS
A produção do complexo automobilístico da Ford caiu cerca de 30% em março e 8,4% no primeiro trimestre de 2019. Já as exportações de automóveis caíram 56% entre janeiro e abril. A queda na produção e nas exportações é reflexo da crise na Argentina, mas o paradeiro no mercado interno também ajuda. Mas há uma luz no fim do túnel, pois o governo argentino fechou parceria com as empresas automobilísticas para oferecer descontos na venda de automóveis,
2020: A DISPUTA PELA PREFEITURA
Nos últimos anos, as eleições para Prefeitura de Salvador tem seguido uma linha na qual os governadores do PT, fazendo oposição ao Prefeito ACM Neto, apoiam vários candidatos no 1º turno, para assim dividir a disputa e apoiar o melhor colocado no 2º turno. Detentor de enorme capital político e muito bem avaliado, o Prefeito ACM Neto poderia apoiar um candidato único e, se assim for, provavelmente ele estará no segundo turno. Sendo assim, o mais provável é que o governador Rui Costa mantenha a estratégia tradicional, apoiando vários candidatos no 1º turno para, no pleito final, jogar o peso de sua liderança no apoio ao mais votado. Mas há uma outra estratégia na qual o Prefeito ACM Neto não teria um candidato único nas eleições para a Prefeitura e distribuiria seu apoio entre vários candidatos do seu arco político. Muita água ainda vai rolar, mas está se desenhando um disputa diferente pela Prefeitura de Salvador.
MOMENTO DIFÍCIL
A economia baiana, especialmente o setor industrial, atravessa um momento difícil. A RLAM – Refinaria Landulpho Alves, um dos pilares da indústria, continua reduzindo sua produção, que caiu 5,7% no 1º trimestre de 2019, e as tratativas para sua privatização, única saída à vista para a recuperação do setor, estão emperradas. A Braskem, outro pilar industrial, encerrou as negociações com a empresa holandesa Lyondel e ainda precisa se blindar frente a uma possível recuperação judicial da Odebrecht, controladora da empresa. Para completar, o preço da celulose despencou no mercado internacional e a produção de automóveis caiu. Resultado: no 1º trimestre de 2019 a indústria de transformação caiu 4,2%, queda três vezes maior que a registrada à nível nacional.
GUIDO GUERRA
Estava preparando este artigo quando Guido Guerra apareceu em meu gabinete. De vez em quando, Guido aparece de supetão, mas nesta noite ele estava impossível, conversando animadamente, contando causos e fazendo jus ao apodo de papagaio devasso. Foi uma alegria vê-lo novamente e neste 7 de junho, passados13 anos de sua morte, é mister festejá-lo, ele que foi jornalista, escritor, cronista, autor de vários livros e um dos mais atuantes imortais da Academia de Letras da Bahia. Evoé, Guido.