Os professores das universidades do estado da Bahia estão em greve há pouco mais de 40 dias. Sem previsão de acabar, o movimento segue marcado por polêmicas de ambos os lados. Entre as mais recentes, a afirmação do governador Rui Costa (PT) de que a paralisação seria partidarizada gerou uma reação taxativa do vice-presidente da Associação dos Docentes da UESB (Adusb), Hayaldo Copque: “ele mente”.
“Nosso único partido é a defesa da universidade pública de qualidade”, disse Copque, em entrevista ao Portal Bahia Econômica, afirmando, ainda, que desde 2015 os docentes tentam negociar com o governo. “Nós estamos protocolando pautas de reivindicação desde 2015. No ano de 2017 aprovamos o indicativo de greve. Somente no mês passado, o governador, vendo que a greve seria deflagrada, indicou que membros do seu governo sentassem com o movimento sindical para discutir as problemáticas acerca das reivindicações. Isso foi feito. Sentamos com eles e acordamos que nós continuaríamos conversando sobre as questões mesmo que a greve fosse deflagrada. Agora Rui vem com essa farsa, dizendo que houve greve antes da negociação, esquecendo que só houve negociação em virtude da greve”, disse.
Durante entrevista a uma rádio local, o chefe do Executivo baiano revelou que um professor pleno em regime de dedicação exclusiva ganha um supersalário de R$ 20 mil, enquanto que o um profissional titular receberia R$ 17 mil. Além disso, Rui questionou a quantidade de horas que o professor deve passar em sala de aula. “É demais pedir que um professor de dedicação exclusiva dê 12h de aula por semana? É muito dar duas horas de aula por dia?”, disse Rui na ocasião.
O representante da Adusb, no entanto, afirmou que o governador mostra “total desconhecimento sobre as universidades”. “O governador fala como se tivéssemos um número absurdo de professores ganhando R$ 20 mil mensais. Muito pelo contrário! Para que um possível salário de R$ 20 mil seja real, em casos de dedicação exclusiva, ele precisa ter percorrido uma longa carreira, com inúmeras contribuições à universidade e anos de espera nas filas de promoção”, disse Copque, acrescentando que existem cinco classes de professores: ‘auxiliar, assistente, adjunto, titular e pleno’, cada uma dessas com os níveis A e B, à exceção do pleno. Essas promoções também estão na lista de reivindicações da categoria.
Quanto à carga horária em sala, Copque declarou que também faz parte do trabalho do professor coordenar e participar de projetos de extensão, fazer pesquisas, dirigir departamentos, colegiados e compor pró-reitorias, corrigir atividades, orientações, entre outras. “A vida de um professor acadêmico vai além das 40h semanais, até em casa estamos trabalhando”, disse.
O representante dos professores também não poupou críticas ao governador, quando questionado sobre investimentos para a educação: “Nos últimos dois anos ele cortou parte do orçamento das universidades estaduais. Foram R$ 110 milhões retirados das universidades”. Essa ação também fortaleceu o rótulo recém criado de “Bolsonaro do PT” atribuído ao chefe do Palácio de Ondina.
O imbróglio, pelo visto, está longe de acabar. Isso porquê, na noite da última terça-feira (21), o governador usou o seu programa veiculado em redes sociais, o # PapoCorreria, para afirmar que não fará nova proposta para os professores das universidades estaduais. A justificativa é de que o estado “não pode gastar mais do que arrecada”.
“Estou fazendo o limite do que eu posso. Não cometerei irresponsabilidades com as finanças do Estado”, declarou. “Já trabalhei em lugar que não pagou salário. Sei qual é a dor do pai de família que teria que passar no mercado, mas não pode porque não recebeu salário”, disse Rui, que completou: “não posso dar para um segmento o que não posso estender para todos os servidores”, ponderou.
Reivindicações
A categoria pede reposição das perdas salariais (25,64%) ao longo de quatro anos. Além disso, que não haja alteração do Estudo do Magistério Superior sem o aval do movimento docente. Os docentes querem ainda 7% da receita líquida de impostos para que as universidades cumpram os direitos trabalhistas e para investimentos em pesquisa, extensão, assistência estudantil, estrutura etc.
Além da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (Uesb), também suspenderam as atividades os docentes da Universidade do Estado da Bahia (Uneb), da Universidade Estadual de Feira de Santana (Uefs) e da Universidade Estadual de Santa Cruz (Uesc).