O grupo Odebrecht enfrenta a mais difícil crise de liquidez desde que a Operação Lava-Jato colocou-o sob os holofotes das ações de combate à corrupção no Brasil, há quatro anos. A companhia precisa de um fôlego de R$ 1 bilhão para, por mais um ano, manter suas atividades funcionando, enquanto tenta se reorganizar financeiramente. Segundo o site Valor Econômico, os recursos, porém, não são para cobrir dívida, e, sim, para o funcionamento cotidiano das empresas, incluindo os pagamentos devidos ao Ministério Público (MP).Exceto a petroquímica Braskem, que possui vida própria, e a Ocyan, que finalizou uma recuperação extrajudicial em 2017, os demais negócios estão inadimplentes no serviço e na amortização das dívidas há pelo menos seis meses, já em conversas com os credores para uma saída.
Apesar do aperto, a direção do grupo acredita que encontrará as soluções necessárias para a liquidez. Ao Valor, a companhia afirmou em nota que “depois de três anos de profunda transformação, em que reconheceu erros, mudou governança, aprimorou sistemas, está concentrada na reestruturação de dívidas de algumas de suas empresas controladas e na busca de eficiência e excelência de outras que estão em fase de crescimento.” O grupo diz estar “confiante no avanço das negociações, que são complexas e demandam tempo”. Nesses últimos quatro anos, o conglomerado vem se sustentando basicamente com recursos próprios – tanto para rodar as operações quanto para honrar compromissos financeiros – e sucessivos alongamentos da dívida. De um programa para obter R$ 12,5 bilhões, o grupo levantou R$ 7,5 bilhões com venda de ativos.
Além disso, a holding Odebrecht S.A. (ODB) assumiu a participação de sócios em vários negócios, que preferiram desfazer a sociedade, e fez sozinha frente aos aportes necessários nesse período. Mas o fôlego chegou ao fim, segundo diversas fontes ouvidas pelo Valor. O objetivo para 2019 ainda é deslanchar uma ampla reorganização financeira, a partir de cada negócio, para ajustar a dívida de cada um à sua realidade de geração de receita, tentando, dessa forma, evitar que a própria ODB chegue a uma recuperação judicial. Mas esse plano não está se concretizando na velocidade planejada. E o risco na holding aumenta a cada dia. A RK Partners trabalha no desenho de soluções possíveis para o grupo, inclusive para uma eventual recuperação judicial, se necessária, desde o fim de 2018.
A expectativa é que, nos próximos meses, várias empresas tenham que entrar em recuperação extrajudicial ou até judicial. Entre elas a Atvos, de açúcar e álcool, a própria construtora Odebrecht Engenharia e Construção (OEC), por conta da reorganização de US$ 3 bilhões em bônus emitidos fora do Brasil, o estaleiro Enseada e provavelmente a incorporadora e construtora OR, antiga Odebrecht Realizações. Esse risco também assombrou a Odebrecht TransPort (OTP), diante da demora na aprovação da venda da SuperVia à Mitsui pela Caixa, mais precisamente pelo FII-FGTS, sócio no negócio. Os compromissos financeiros do grupo, já descontados os de Braskem, são da ordem de R$ 80 bilhões. É mais do que os R$ 65 bilhões consolidados na ODB – desconsiderada a petroquímica – devido à existência de negócios nos quais a Odebrecht é a maior acionista, ainda que não seja controladora, e operações fora do Brasil.
Do total devido, R$ 40 bilhões são com os seis maiores bancos nacionais. No plano de reestruturação, inicialmente, não se pretende considerar essa dívida de forma agregada, mas sim reorganizá-la nas suas controladas. Mas colocar essa estratégia em prática está mais difícil do que se pensava. Por um lado, o tamanho da exposição do grupo evita ou posterga um colapso, que não interessa a nenhum dos grandes credores. Os bancos nacionais têm nas mãos garantia para apenas R$ 12,7 bilhões do total dos créditos, em ações da Braskem. Mais de R$ 27 bilhões não têm cobertura – seria, para o sistema financeiro, um volume de crédito inadimplente muito maior do que o de qualquer outra companhia que já tenha tido problemas no Brasil.