A campanha de Fernando Haddad encara o desafio das urnas sob o olhar desconfiado do mercado financeiro, que ainda torce o nariz para o petista. Apenas para se ter uma ideia da situação, o Ibovespa empreendeu sucessivos ralis de alta e rompeu a barreira do 83 mil pontos essa semana, com pesquisas que apontam a vitória do candidato do PSL, Jair Bolsonaro.
A má vontade do mercado em relação ao candidato petista demandou do alto comando da sua campanha a necessidade de delinear mais claramente para a sociedade e o mercado financeiro o perfil do futuro condutor da economia.
Na cúpula petista, há quem defenda que Haddad anuncie já na segunda fase – se chegar lá – o nome de seu ministro da Fazenda. Mas há resistência a isso do próprio ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que comanda a tática de campanha, embora preso no âmbito da operação Lava-Jato, na carceragem da Polícia Federal (PF) em Curitiba (PR), desde abril desse ano.
De acordo com matéria veiculada pelo Jornal Valor Econômico, dentre os nomes que despontam na perspectiva de ocupar o cargo, surge o ex-governador e candidato petista ao senado pela Bahia, Jacques Wagner. Há outras opções, como o banqueiro Luiz Carlos Trabuco.
O cálculo para a definição do nome do titular da pasta da Fazenda é estratégico, visto que, no presente momento, seria impensável chamar o Meirelles, que, num passado recente, chegou a ser o preferido de Lula para o cargo.
Num outro flanco, as trincheiras petistas trabalham com a perspectiva de evitar a pecha de “estelionato eleitoral”, com a conseqüente perda de sua base na esquerda. Ainda está fresca na memória petista a acusação de “traição”que pesou sobre Dilma após as eleições de 2014, que, depois reeleita, anunciou o fiscalista Joaquim Levy para a Fazenda.
A questão é que o mercado demanda as reformas, tema em relação ao qual a massa de apoiadores petistas é hostil. Ocupam especial relevância nesse contexto, as corporações de funcionários públicos, que recusam a reforma previdenciária, temendo perder seus privilégios.
Caso Haddad/Lula não encontrem uma forma de equacionar as demandas do mercado com as bandeiras do partido, se prevê um quadro de pânico nos mercados, o que pioraria a economia e atrapalharia o início de uma eventual próxima gestão.
Bolsonaro, por sua vez, deixou claro que a economia será dirigida pelo ultra privatizante Paulo Guedes, o que arrebatou os formadores de preço do mercado financeiro. Haddad, ainda vacila, tentando construir a ideia de que ele mesmo, com seu perfil moderado e bom relacionamento com representantes mais à direita no mundo econômico (como Marcos Lisboa e Samuel Pessoa), é a referência que deve ser observada para conduzir a economia.