A entrevista de Jair Bolsonaro no Jornal Nacional esta semana mostrou que o candidato do PSL à Presidência da República entra na luta eleitoral disposto a atirar para matar. A declaração pode ser tomada literalmente, afinal, o capitão do exército disse na entrevista que no seu governo a polícia poderá entrar nas áreas de conflito e “matar 10, 15 ou 20 com 10 ou 30 tiros” e deve ser condecorado. Mas o que impressiona é a metáfora, ou seja, na defesa de suas ideias Bolsonaro parece disposto a enfrentar qualquer um, seja a imprensa, os partidos, as mulheres, os negros ou homossexuais.
A melhor defesa é o ataque parece ser o lema do candidato, assim, questionado sobre o uso do auxílio moradia, ele respondeu atacando os jornalistas que recebem como pessoa jurídica, frente a questão de igualdade de remuneração entre homens e mulheres, contestou colocando a situação pessoal da apresentadora, e ao ser arguido sobre seu apoio a ditadura militar respondeu atacando a posição da rede de televisão à época. É um script conhecido, o mesmo utilizado por Donald Trump para chegar a presidência do Estado Unidos, que traz enormes preocupações aos brasileiros, pois anuncia, se ele chegar a Presidência da República, um período político tão conturbado como o que atualmente enfrenta nosso vizinho do Norte, caracterizado por ataques constantes a imprensa, bravatas de todo tipo e políticas retrógadas que vão contra os consenso da civilização relacionados com o meio-ambiente, os direitos individuais e a maior igualdade entre os povos.
Mas há uma diferença fundamental: a democracia americana é sólida e a estrutura do sistema governamental impede que arroubos e bravatas dos presidentes se tornem politica efetivas. Bem diferente da infante democracia brasileira tão frágil e tão sujeita a retrocessos. E então surge a primeira e fundamental pergunta: qual o compromisso de Jair Bolsonaro com a democracia? E o que faria, por exemplo, se o Congresso Nacional, onde não terá maioria, não aceitar suas propostas, impedindo-o de governar? Há quem acredite que, com sua pouca paciência para com a democracia e sua declarada admiração pelo golpe militar de 1964, o capitão do exército ficaria tentado, após ter nomeado todos os chefes das forças armadas, a partir para cima do adversário atirando para matar na débil democracia brasileira. Poder ser que não, afinal, muitos políticos tradicionais se aproximarão do candidato, mas, não vamos esquecer, que muitos políticos tradicionais se aproximaram dos militares em 1964 e eles, que prometiam ficar pouco tempo, cassaram a todos e condenaram o Brasil a 25 anos de ditadura militar.
Mas, dirão alguns, o Bolsonaro de hoje é outro e estaria longe do perfil estatizante e nacionalista dos defensores do militarismo, pois já definiu que seu Ministro da Fazenda será o economista reconhecida tendência liberal. Novamente é preciso cautela, afinal ministro é demissível ad nutum e Guedes pode ser apenas um escudo liberal. Na entrevista ao Jornal Nacional, por exemplo, o candidato Jair Bolsonaro tinha escrito à caneta na mão, como se não quisesse jamais esquecer, o slogan: “Deus, Família e Brasil”, lema muito parecido com o ostentado na marcha Família com Deus pela Liberdade”, que precedeu o golpe de 1964 e semelhante aquele usado pela antiga Ação Integralista Brasileira (AIB) “Deus, Pátria e Família” pregando um Brasil potência nacionalista, estatizante e centralizador. E basta olha para o histórico de votos de Bolsonaro para perceber seu histórico estatizante, afinal, ele votou contra a quebra do monopólio das telecomunicações, contra a quebra do monopólio estatal do petróleo, contra a reforma administrativa. E aqui surge uma enorme diferença entre Donald Trump e Jair Bolsonaro, já que o primeiro teve o trunfo de ser um empresário de sucesso e o segundo viveu todo sua vida como funcionário público no exército e na política.
O Brasil já caiu no conto do “salvador da pátria” de nome Fernando Collor que prometeu matar a inflação com um golpe, por isso precisa ter cuidado para não embarcar na canoa de outro “salvador da pátria” que promete acabar os problemas brasileiros com um tiro.
BOLSONARO NA BAHIA
Na Bahia, ninguém pongou ainda na popularidade crescente de Jair Bolsonaro. A rejeição do candidato João Henrique é tão grande que nem o capitão do exército conseguirá alavanca-lo. E entre os demais candidatos até o momento, apenas o candidato a Senador Irmão Lázaro, declarou seu voto e ainda terá vídeo gravado pelo candidato do PSL. No interior a maioria dos eleitores acredita que Lula é candidato, mas já há quem diga que vai votar em Rui para governador e Bolsonaro para presidente.
CIRO E O REFIS DOS POBRES
A proposta do candidato Ciro Gomes de fazer o refinanciamento das dívidas dos devedores inscritos no SPC é bastante razoável, especialmente para as dívidas menores, que representam a maioria absoluta dos endividados. O candidato tem razão quando afirma que já bancos oferecendo deságio para viabilizar o pagamento e o refinanciamento a juros menores poderia ser viabilizado pelo governo a custo relativamente baixo. A medida pode trazer de volta ao mercado muitos consumidores, desde que eles não estejam desempregados, e pode aquecer um pouco mais o comércio que continua andando de lado.
SECA NA BAHIA
A seca voltou a afetar quase metade dos municípios baianos. Mais de 3 milhões de pessoas estão em situação precária e os prejuízos econômicos são grandes. Os candidatos a governador do estado precisam dizer se vão continuar empurrando o problema com a barriga, com medidas emergenciais e paliativas ou se vão apresentar aos baianos um plano de convivência com a seca. São várias as alternativas econômicas para o semiárido a exemplo da caprinocultura, das lavouras de sequeiro, da irrigação através de aquíferos, da geração de energia renovável e muitas outras. É necessário, contudo, um plano integrado de ação que estabeleça ações relativas à crédito, financiamento, fornecimento de insumos, extensão rural e por aí vai. Um grande programa apoio à produção econômica no sertão da Bahia terá custo menor do que dois pilares da ponte Salvador/Itaparica e vai custar muito menos do que R$ 50 milhões, o custo mensal da Assembleia Legislativa de Salvador.