Certamente o leitor já ouviu falar do motorista que caiu num buraco pensando que era uma poça d´água enquanto dirigia por uma estrada. Ou de um hóspede dum hotel que ficou paraplégico ao saltar para dentro de uma piscina sem observar que ela estava em manutenção e sem água. Ou ainda de uma firma que faliu antes mesmo de se iniciar a amortização de um financiamento, tendo de entregar todo o ativo para o banco emprestador. São inúmeros os casos em que o banco teve de assumir a garantia para não perder o dinheiro que emprestou.
Nunca entre em um negócio, por menor que ele seja, sem antes fazer uma análise prévia de pelo menos quatro enfoques: forma de organização, aspectos técnicos, estudo de mercado e projeções financeiras. Mesmo sabendo que o projeto não irá retratar o negócio fielmente, pois ninguém tem bola de cristal para saber exatamente o que vai acontecer no futuro, ele vai lhe indicar a melhor alternativa na tomada de decisão, revelando facetas incomuns.
Quando se fala em organização se está procurando identificar qual a forma mais adequada. Se uma entidade empresarial tipo sociedade anônima ou se sociedade limitada; se uma organização não governamental ou se uma empresa estatal; se uma empresa familiar de capital fechado ou se uma companhia de capital aberto com títulos negociados em bolsa de valores mobiliários; enfim, procure saber qual a configuração mais apropriada para a atividade que você vai empreender, valendo lembrar que não existe negócio sem risco.
Em relação aos aspectos técnicos, dependendo do ramo escolhido, se industrial, comercial, de serviços ou agronegócio, não deixe de verificar a conveniência de definir um projeto completo considerando, no que couber, a parte conceitual, configuração básica com definição da tecnologia, engenharia de detalhamento, construção civil, montagem eletromecânica, instrumentação, pré-operação e operação, e dimensionamento do capital de giro necessário para que tudo comece a funcionar bem. Por mais cuidados que se tome não se vai ficar imune a erros. Conheço inúmeros casos de insucesso, inclusive de feitos por pessoas de experiência comprovada e em nome de organizações detentoras de marcas consagradas. Faça um detalhado quadro de usos e fontes, definindo o valor mais próximo do real para cada uma das aplicações e relacione a origem de todos os recursos financeiros, se próprios, dos donos do empreendimento, ou de terceiros, fornecidos por alguma instituição financeira. Se o empréstimo for barato, com taxa de juro mais em conta, tome mais dinheiro. Se, ao contrário, for caro, estabeleça limites para o endividamento.
Quanto ao estudo de mercado, analise com a maior precisão possível os dois lados: a demanda e a oferta. Do lado da demanda levante informações sobre os mercados alvo, no país e no exterior, quantificando-os, descrevendo suas estruturas de comercialização (agentes, importadores, atacadistas e varejistas). Do lado da oferta, relacione os principais fabricantes do produto (bens ou serviços), busque informações sobre os mercados atendidos, problemas enfrentados e adversidades ocorridas. Faça projeções dos dois lados e do balanço oferta-demanda. Na definição das estratégias, lembre-se da importância de considerar a diferença entre comercializar um produto que está sendo consumido ou de algo novo que vai ser introduzido no mercado.
Finalmente, não deixe de fazer projeções financeiras, principalmente do fluxo de caixa. Ele vai ser útil no cálculo das estimativas da rentabilidade do seu projeto. Com ele você poderá estimar a taxa interna de retorno, o tempo de recuperação do capital, o valor presente líquido, enfim, se vai valer a pena, ou não, investir no projeto. Siga esses passos a fim de evitar um salto no escuro.
Adary Oliveira é presidente da Associação Comercial da Bahia – [email protected]
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