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NA VENEZUELA, DORMIR DÁ MAIS DINHEIRO QUE TRABALHAR

Redação - 18/05/2018 13:59 - Atualizado 18/05/2018

Há quatro meses sem trabalho, o pedreiro Juan Rudá, de 53 anos, chega pontualmente às 6 horas e senta-se em uma mureta diante do edifício em construção no bairro Las Mercedes, em Caracas. Vai embora às 14 horas, sem o emprego que esperava. Esta é sua rotina diária desde fevereiro, mesmo sabendo que hoje no país é mais rentável dormir que trabalhar, em função do achatamento do salário mínimo.

Rudá luta para conquistar o que em muitos países é considerado trabalho escravo. A vaga que ambiciona paga 41 mil bolívares por dia, o equivalente a US$ 0,05, pela cotação da moeda americana no mercado negro, que hoje regula a economia do país. Só em comida e passagens para chegar até o lugar da obra, seu gasto supera isso. Trabalhar deixou tecnicamente de ser rentável. E não só para ele.

“Esta é uma realidade tanto no setor público quanto no privado, nos trabalhos de menor remuneração. É uma consequência não só da hiperinflação, mas de uma depressão econômica violenta. O PIB do país caiu pela metade em quatro anos”, afirma o economista Omar Zambrano, da Universidade Central da Venezuela. Não há condições, segundo o especialista, de uma reversão nesta tendência sem uma mudança de política econômica.

O presidente Nicolás Maduro tentará a reeleição no domingo. Seu principal rival é o ex-chavista Henri Falcón, que pretende dolarizar a economia, medida da qual Zambrano discorda. “Brasil, Peru e Bolívia conseguiram sair desse processo de hiperinflação sem abrir mão da moeda. Mas sem uma troca na presidência, certamente não haverá mudança”, opina o economista. Uma das hipóteses estudadas por acadêmicos locais é a adoção de um plano semelhante ao Real, com indexação inicial da moeda local à americana.

Não há dado confiável sobre o desemprego na Venezuela. A medição costumava ser feita com base em pesquisas residenciais abandonadas há três anos, segundo Zambrano. De acordo com o economista, mesmo que os levantamentos fossem retomados, haveria distorção porque boa parte dos consultados, ao contrário de Rudá, não busca colocação no mercado.  O pedreiro reconhece que já não busca emprego pelo dinheiro, mas “para manter a autoestima e o respeito dos cinco filhos”.

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