O candidato do PSL, Jair Bolsonaro, terá um grande desafio pela frente se for eleito Presidente da República neste domingo, conforme previsão de todos os institutos de pesquisa: o desafio de mudar sua concepção sobre os direitos humanos, de ampliar seu horizonte no relacionado ao respeito pelas instituições e de manter e fortalecer a democracia brasileira. O primeiro passo nesse sentido será assumir que a partir deste domingo se tornará presidente de todos os brasileiros e não apenas daqueles que o elegeram e compreender que no ambiente político democrático o chefe do Poder Executivo sofre oposição, tem projetos rejeitados, está sujeito a críticas e admoestações, sem que isso seja motivo para arroubos de autoridade ou nostalgias de tempos ditatoriais. Além disso, precisa fazer com que jamais passe pela sua cabeça, mesmo em momentos de crise, a possibilidade de desrespeitar as instituições e o Estado de Direito. Esse é o repto para Bolsonaro.
A trajetória e as ideias do capitão de exército, que deve tornar-se presidente neste domingo, vai de encontro a muitos dos valores democráticos e, por vezes, ferem de morte os direitos humanos e individuais, mas o povo brasileiro, ao fazê-lo presidente, lhe dá a oportunidade única de repensar esses valores, mudar sua visão de mundo no que diz respeito a imposição de dogmas e preconceitos, e de entrar para a História como um defensor da democracia. Os críticos de Jair Bolsonaro afirmam que é exatamente a trajetória e as ideias de Bolsonaro que impedem tal esperança e talvez eles estejam certos, mas, se assim for, as instituições parecem preparadas para enfrentar qualquer ataque à constituição, e a população brasileira, que em pesquisa recente mostrou seu apoio total à democracia, saberá posicionar-se para defende-la.
Naturalmente, o presidente eleito precisa dar uma satisfação aos seus eleitores cumprindo os pontos básicos do seu programa no que se refere às propostas econômicas, ao combate a violência, à redução no números de ministérios e encolhimento da burocracia, à concessão e privatização de empresas estatais e outros temas, mas a população não avalizou a apologia a violência nem a perseguição as minorias e as mulheres, tampouco compactua com o racismo, com comentários jocosos em relação aos nordestinos ou com ataques a instituições como o Supremo Tribunal Federal, guardião da constituição, ou o Congresso Nacional, que é a casa da democracia. Nesse sentido o repto que se faz a Jair Bolsonaro, se ele for eleito presidente, é que abandone os arroubos extremistas e as propostas radicais, admita a diversidade, a liberdade individual e o exercício do contraditório e que firme definitivamente um pacto com a democracia.
Armando Avena é escritor, jornalista e economista. Diretor do portal Bahia Econômica é Professor da Ufba e doutor em Ciências Sociais.
Publicado no jornal Correio em 29/10/2018