

A terapeuta especialista em desenvolvimento pessoal Marcela Santana é uma das autoras convidadas do livro Além do Diagnóstico, que reúne textos de especialistas em saúde mental de diferentes áreas. Com lançamento em breve, a obra propõe um olhar que ultrapassa rótulos clínicos e classificações formais para alcançar o que, muitas vezes, fica à margem: a experiência humana por trás dos sintomas. O capítulo da terapeuta baiana, intitulado “O invisível revelado na jornada da terapia transpessoal sistêmica no autismo adulto”, é um convite para uma necessária reflexão sobre as dores silenciosas do não pertencimento e da exclusão social vivenciada por pessoas autistas na vida adulta.
A partir de uma abordagem sensível e terapêutica, o texto percorre experiências comuns de quem recebeu o diagnostico de autismo na vida adulta. De acordo com a especialista, é comum relatos de pacientes que não se sentem pertencentes, nem mesmo nos espaços mais íntimos, como família, momentos com amigos e relações conjugais. “O diagnóstico tardio não apaga uma vida inteira de tentativas de se encaixar em um mundo que pouco compreende as diferenças”, reflete a autora, que evidencia como o autismo adulto ainda permanece ignorado pela sociedade.
Mãe de dois filhos e terapeuta, Marcela Santana dedica seus estudos ao autismo descoberto na vida adulta. Sua trajetória profissional inclui uma transição de carreira marcada pelo cuidado: atuou como professora de educação infantil, fez pós-graduação em psicopedagogia e trabalhou como psicopedagoga, período em que iniciou o atendimento a crianças autistas — experiência que colaborou para aprofundar o olhar para o desenvolvimento humano e nuances do espectro para além da infância.
Com experiência clínica, a terapeuta aponta sinais frequentemente presentes em adultos do espectro autista, como dificuldades nos relacionamentos, conflitos na comunicação, comportamentos repetitivos e hipersensibilidade sensorial, aspectos que, quando não reconhecidos, contribuem para o sofrimento emocional e o isolamento social. “Muitos adultos passam anos sendo vistos como difíceis, estranhos ou inadequados, quando, na verdade, estão apenas tentando sobreviver em um mundo que não os acolhe”, pontua.
Para Marcela, falar sobre autismo adulto é também falar sobre saúde mental e prevenção. “Cuidar da saúde mental não deve ser algo que só vira rotina quando a crise já se instalou. É necessário que seja uma prioridade diária para que problemas maiores não encontrem espaço para crescer na vida”, aconselha. Além do Diagnóstico surge como uma obra que amplia o debate sobre o espectro autista, indo além dos rótulos clínicos e propondo uma compreensão mais empática, sistêmica e humana — especialmente para aqueles que passaram grande parte da vida sem respostas, apenas tentando pertencer.
_Foto/Ana Trancoso