terça, 23 de dezembro de 2025
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MERCADOS INTERNACIONAIS: VEJA CENÁRIOS E ONDE COLOCAR SEU DINHEIRO EM 2026

João Paulo - 23/12/2025 08:58 - Atualizado 23/12/2025

Os mercados globais viveram em 2025 um ano de muita instabilidade diante da incerteza com os impactos da política de elevação de tarifas de importação nos Estados Unidos pelo presidente Donald Trump e os conflitos comerciais com a China. Ao mesmo tempo, o rali das empresas de tecnologia, que impulsionou a bolsa americana, perdeu força no fim do ano em meio ao receio com os elevados investimentos necessários para as empresas desenvolverem seus sistemas de Inteligência Artificial. O resultado foi uma busca por diversificação que puxou as bolsas fora dos Estados Unidos, incluindo a brasileira, e desvalorizou o dólar. Ainda assim, o S&P500 acumula alta de 15% no ano e o Nasdaq, de 19%.

Nas bolsas americanas, as chamadas “Sete Magníficas” de tecnologia perderam espaço para empresas de setores como mineração, que fornecem as chamadas terras raras usadas em armamentos e na própria IA. Mineradoras de ouro também subiram, acompanhando os preços do metal, assim como fornecedores de equipamentos para IA. Esse movimento pode ser visto nos maiores ganhos no ano dos BDRs, recibos de ações estrangeiras negociados na B3, conforme dados da Economatica até 17 de dezembro.

Já entre as grandes empresas, os destaques foram os bancos, como Citigrup, com alta de 42,45%, além de Alphabet, controladora do Google, cujo BDR acumulou alta de 36,75% no ano. Vários BDRs apresentam perdas no ano, também devido à queda do dólar em relação ao real, já que o valor dos recibos de ações acompanha a moeda americana. Assim, Amazon tem perda de 11,23%, ampliada pelo dólar, e Meta, controladora do Facebook e do WhatsApp, de 2,08%. Após o Liberation Day e o aumento das tarifas de importação anunciadas pelo presidente Donald Trump, o mundo passou a questionar os EUA e os investidores globais reduziram sua exposição em dólar e em ativos americanos, indo para outros mercados mais competitivos, explica Raphael “Rafi” Figueiredo Estrategista de ações no Research da XP Invest.

Freds Digital Agency

Durante o evento Onde Investir, Rafi explicou que a estratégia da XP ao longo do ano foi reduzir um pouco a exposição aos Estados Unidos e aumentar em emergentes que se beneficiaram dessa rotação global. Agora, a XP mudou o posicionamento em ativos americanos de “Abaixo do Neutro” para “Neutro”, um ligeiro aumento, com especial atenção para as empresas de inteligência artificial. “O crescimento do lucro por ação dessas empresas têm surpreendido diante de resultados condizentes com o que essas companhias estão investindo”, explica.

Sem bolha de IA

Ele diz que não há uma bolha no setor de IA, mas sim uma discussão sobre a capacidade de as empresas bancarem esse investimento alto nos próximos anos. Rafi diz que o posicionamento está “Neutro” também para Europa e Reino Unido, “Acima do Neutro” para China e mercados emergentes e “Abaixo do Neutro” para o Japão, que passa por mudança de regime e quer taxas de juros mais elevadas, o que pode ter consequências no mundo todo. Para Rafi, as carteiras globais de ações e dividendos devem buscar capturar a regionalização fruto dessa rotação global, o que beneficia os mercados emergentes.  Na carteira Top Ações Globais XP de novembro, as ações de maior peso são Astrazeneca, JP Morgan e Microsoft, com 10%, e Amazon, ASML, Baidu e Citi com 7,5%.

De olho no resto do mundo

O Itaú BBA está mais cauteloso com as perspectivas de corte de juros nos Estados Unidos, diz Nicholas McCarthy, diretor global de estratégia de investimentos do banco de investimentos. “O mercado acredita que haverá mais dois [cortes] no ano que vem, mas nós achamos que vamos ver mais um”, diz. O Itaú BBA entrou o ano ampliando os investimentos no que McCarthy chama de “resto do mundo”, com ações de emergentes, especialmente as asiáticas, e empresas de crescimento fora dos EUA. O banco está otimista também com crédito americano, que deve trazer maiores ganhos do que os títulos públicos.

Ano similar

Para o ano que vem, McCarthy diz que se tivesse que fazer alguma mudança na carteira seria continuar com o processo de comprar o resto do mundo. “Como não temos mais caixa, provavelmente diminuiríamos a posição em títulos do Tesouro americano”, diz. Segundo ele, com a queda do dólar, os ganhos em outros países e moedas aumentaram, com as bolsas de países emergentes subindo mais de 30% em dólar, o Brasil, quase 45%, a Europa, 23% e o Japão perto de 28%. Já a bolsa nos Estados Unidos tem ganho de 15%, o que não é ruim, mas fica longe do resto do mundo. “E nossa expectativa é um pouco que será um ano similar a este no mercado internacional, em que que ativos fora dos Estados Unidos performarão melhor”, diz.

Juros de 6,5% em dólar

Na renda fixa, o investimento está em empresas americanas de alto retorno, ou High Yield, que pagam taxas perto de 6,5%, ante 3,5% dos títulos do Tesouro. “Mas também gostamos de emergentes de forma geral”, afirma, acrescentando que a dívida soberana de emergentes está subindo o dobro dos demais países, algo como 16% em dólar. Na parte de crédito, os bonds de emergentes vêm subindo 7% a 8% em dólar, o que também é bom. Segundo McCarthy, a carteira do banco passou de 20% investidos fora dos EUA no começo de 2025 para 30%.

Só o começo da revolução

O ano que vem deve trazer volatilidade, principalmente se algum resultado, especialmente de empresas de tecnologia, frustrar os investidores, já que os preços estão ficando bastante altos, diz Ronaldo Patah Head de Estratégia de Investimentos Brasil do UBS Global Wealth Management. Ele tem recomendação de compra para a bolsa americana, especialmente para tecnologia, e considera que não há uma bolha no setor. “O que estamos vendo é só o começo de uma revolução chamada IA e que nos próximos cinco anos vai trazer muito crescimento de investimento, vendas e lucros concentrados nessas empresas, não só americanas, mas também chineses, que vão vir com tudo”, diz.

Bolsas acima do neutro

Para Patah, vale a pena manter alocação em bolsas acima do neutro como um todo, especialmente em tecnologia da China, por ser um jeito de sair um pouco das Sete Magníficas americanas. Ele também tem recomendação de bolsas europeias, emergentes, japonesa e da Ásia ex-Japão. “Só não recomenda Reino Unido, Suíça e Taiwan pelos preços já estarem altos”, diz. A alocação global e diversificada em bolsas se justifica, basicamente pelo cenário de corte dos juros nos EUA, que aumenta apetite por risco dos investidores, e pelo fato de os fundamentos do lado da renda variável estarem bons.

Pagando para ver

Segundo ele, o crescimento do lucro para as 500 maiores empresas americanas do S&P500 está na faixa de 8% para o ano que vem e o UBS projeta o S&P500 a 7.700 pontos em 2026, quase 15% de alta, depois do ganho de 16% neste ano. “Já houve uma alta importante da bolsa neste ano e ela vai continuar subindo pois os investidores vão estar dispostos a pagar um preço mais alto por crescimento”, diz, acrescentando ainda como fatores positivos a queda dos juros americanos sem risco de recessão, sem risco geopolítico e tendo a eleição no Congresso americano no meio do caminho, o que deve fazer o presidente Donald Trump ser mais populista.

Commodities na lista

Na renda fixa, como o juro vai cair, os títulos de empresas americanas tendem a se valorizar e por isso ele tem recomendação de compra para bonds de baixo risco de crédito. “Também sugerimos diversificar em outras moedas além do dólar”, diz. Uma parte do dinheiro também deve ir para índices de commodities, já que ele espera ganhos com metais preciosos, como ouro e prata, e minerais não preciosos, como ferro. Ele sugere ainda que o investidor com menos recursos use instrumentos locais para aplicar no exterior, como BDR de ações ou fundos internacionais, como os ETFs, negociados na B3 em reais. “Se não tiver um patrimônio mínimo razoável, não compensa ter conta lá fora, e é preciso ver o custo também”, diz.

Nvidia e Alphabet

O mercado americano e o S&P500 continuaram com uma performance concentrada nas chamadas Bit Techs, diz Rodrigo Santoro, head de Ações da Bradesco Asset. E o grande destaque de performance foram os papéis ainda ligados à temática de Inteligência Artificial, como Nvidia, que subiu 36% em dólar na esteira do crescimento das encomendas de chips para IA, e Alphabet, controladora do Google, que disparou mais de 60% no ano após a empresa mostrar que não estava ficando para trás no desenvolvimento de sua IA, o Gemini, além de obter ganhos em disputas judiciais com o governo e societárias.

Para 2026, Santoro continua gostando do setor de IA e acredita que Google e Nvidia continuarão vencedores. “Mas em geral a gente continua vendo um cenário positivo para bolsa americana dado o ciclo de política monetária lá fora”, diz. O juro mais baixo nos Estados Unidos, por sua vez aumenta o otimismo do Bradesco com o restante do mundo, principalmente mercados emergentes. “Estamos otimistas com a bolsa americana, mas mais otimistas com mercados emergentes”, diz.

Cuidado com a variação do dólar

O Federal Reserve deve promover mais duas reduções de juros nos Estados Unidos no ano que vem, o que levará a taxa básica para 3% ao ano e mexerá com a dinâmica dos mercados globais, diz Vagner Franceschi, especialista de Investimentos do Sistema Ailos, instituição financeira que reúne 13 cooperativas de crédito. Para o investidor brasileiro, Franceschi diz que é importante ter ativos no exterior, mas com parcimônia diante da diferença de taxas de juros no Brasil e, dependendo do que acontecer, o dólar tende a se desvalorizar como nos últimos meses. “Pode ser que o investidor não tenha o retorno esperado por conta da perda no câmbio”, diz. ( Reportagem Infomoney)

 

(Foto: REUTERS/Dado Ruvic/Ilustração)

 

 

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