Há mais de duas décadas, o Nordeste é um terreno fértil para candidaturas apadrinhadas por Lula, e a quantidade de votos da região desempenha papel decisivo na eleição presidencial. Para cientistas políticos, mesmo enfrentando a barreira simbólica do “lulismo”, a direita ainda tem chance de disputar o eleitorado nordestino, mas precisará se reinventar sem a presença de Jair Bolsonaro nas eleições de 2026. “Todos os estados têm potencial para conquistar eleitores. No caso do Nordeste, acho muito complicado reverter o favoritismo consolidado pelo presidente Lula ao longo de sua trajetória, mas espaço sempre há”, diz a doutora em Ciência Política pela UFMG e professora da Universidade Federal de Alagoas, Luciana Santana.
“Para conquistar governos estaduais, talvez essa seja uma estratégia mais palpável, considerando os recursos que os partidos concentram. A direita tem oportunidade, mas precisa ser eficiente. E talvez seja isso que ela não tenha tido: a eficiência necessária para se realocar e vencer uma eleição”, afirma Luciana. A última pesquisa Real Time Big Data, divulgada na quarta-feira (17), mostra que o presidente Lula lidera com ampla vantagem as intenções de voto no Nordeste em todos os cenários testados para a disputa do ano que vem. No primeiro turno, o petista soma 51% das intenções de voto, contra 11% do segundo colocado, Flávio Bolsonaro (PL-RJ).
No entanto, esse fenômeno não se repete nas eleições para governador. Se antes o Nordeste compensava eventuais perdas no Sudeste, uma disputa mais acirrada nos estados tende a tornar as duas regiões igualmente competitivas, ampliando o peso das grandes capitais nordestinas no tabuleiro eleitoral de 2026.
A projeção de votos para governadores reforça esse cenário de disputa. Na Bahia, ACM Neto (União) e o governador Jerônimo Rodrigues (PT) aparecem em empate técnico, repetindo a polarização de 2022 em um estado onde Lula detém a esmagadora maioria dos votos.
Dados da pesquisa Real Time Big Data, divulgada em 26 de novembro, mostram ACM Neto com 44% das intenções de voto, seguido do atual governador Jerônimo Rodrigues (PT), com 35%. Diferentemente de outros estados, o resultado na Bahia pode significar a manutenção do alinhamento ao governo Lula ou a migração para o campo da direita, tornando o estado uma das disputas mais estratégicas de 2026.
Em Alagoas, o embate entre Renan Filho (MDB), ministro do governo Lula, e JHC (PL) desenha uma disputa direta entre governo e oposição. Levantamento divulgado pelo instituto Paraná Pesquisas em 12 de dezembro mostra que JHC tem 47,6% das intenções de voto, contra 40,9% de Renan Filho.
“Precisamos entender as eleições de forma separada, e o comportamento do eleitor não tem essa coerência de eleger prefeitos, governadores e presidentes com o mesmo perfil ideológico”, afirma Luciana. “Por isso, não falo em mudança do perfil do eleitorado, mas em contextos que influenciam mais ou menos essas guinadas à direita ou à esquerda.”
Luciana avalia que outro ponto-chave para ser explorado pelas candidaturas que desejam um bom desempenho no Nordeste será o foco no novo desempenho econômico da região.
Com a criação do Consórcio Nordeste e novas parcerias internacionais firmadas, a região caminha — a passos rápidos — para se tornar o novo polo tecnológico e de transição energética limpa do país.
“Será um erro muito grande para candidaturas que não aproveitarem essa oportunidade. E falo isso pensando naqueles candidatos com ideologia mais à direita, que têm tido dificuldade para alterar o comportamento desse eleitor”, afirma.
“Os estados do Nordeste são muito estratégicos para o desenvolvimento econômico do país. Para conquistar esse eleitorado, será necessário incorporar essa realidade em propostas de campanha que avancem nesse projeto de crescimento, ao mesmo tempo em que diminuam as assimetrias regionais”, diz a cientista política. (Infomoney)
Foto: Luma Marques
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