sexta, 05 de dezembro de 2025
Euro Dólar

SOBRE O MEDO E A CORAGEM – SÉRGIO FARIA

Redação - 05/12/2025 06:38

 

 O medo tem alguma utilidade, mas a covardia não

Mahatma Gandhi

 

Os navegadores antigos tinham uma frase gloriosa que inspirou o poeta

Fernando Pessoa em suas Palavras de Pórtico: “Navegar é preciso, viver não é

preciso”, ou seja, “Navegar é necessário, viver não é necessário”. A expressão

simboliza o caráter aventureiro das primeiras experiências dos homens com a

navegação, quando se lançavam ao mar em viagens de retorno incerto e,

quase sempre, de desfecho catastrófico.

Na nossa cultura, somos condicionados, desde pequenos, a rejeitar o medo,

mas – atenção, fortões de plantão – o medo, em si, não é uma coisa negativa,

antes, porém, é um elemento essencial para a nossa defesa e sobrevivência.

O medo é instrumento de controle e, muitas vezes, nos impede de cair num

precipício; pode nos livrar do atropelo no meio da rua; de um assalto a mão

armada; da mordida de um cachorro vadio ou mesmo da derrota pelo contra-

ataque do time adversário.

Mas, se o medo não é ruim, então a coragem não é uma virtude? A dúvida

parece absurda, já que a coragem sempre foi uma das qualidades mais

cultivadas ao longo de toda a história da humanidade, embalando as mais

belas páginas da Filosofia e da Literatura Universal.

Se entendermos a coragem como a negação do medo, podemos concluir que

ela é desastrosa. A coragem, entretanto, não é a ausência do medo, mas o

controle desse sentimento (“Coragem é resistência ao medo, domínio do medo,

e não ausência do medo”, Mark Twain).

Restabelecido o conceito de coragem, podemos perceber que, assim como

negar o medo, cultivá-lo pode ser igualmente perigoso, pois o medo constante

assume a dimensão da depressão, essa doença terrível, que nos paralisa e

nos impede de aproveitar o melhor da vida.

“A vida é muito curta para ser pequena”, ensina o escritor e político britânico,

Benjamin Disraeli.

Você tem medo de quê? De avião? Bicho-papão? Escuridão? Solidão?

Pobreza? Bala perdida? De paixão? Da vida? Da morte?

Certa vez, ouvi uma expressão que me pareceu inteligente e controversa:

“Tenho mais medo do ridículo do que da morte”. Por um lado, faz sentido, pois

pior que morrer é perder a vida, se arrastando com medo da morte. Por outro

lado, viver com medo do ridículo é viver sem amar, afinal, voltando a Fernando

Pessoa, “As cartas de amor, se há amor, têm que ser ridículas”.

 

Eta vidinha complexa!

Termino com a mesma expressão inicial, reinventada com um novo sentido:

“Navegar é preciso, viver não é preciso”, ou seja, “Navegar é exato, viver não é

exato”.

E vamos em frente!

 

 

Sérgio Faria,  engenheiro e escritor, presidente da ALAS –

Academia de Letras e Artes do Salvador e membro da ABROL

– Academia Brasileira Rotária de Letras

 

(Foto: Blog Decreto da Vitória)

Copyright © 2023 Bahia Economica - Todos os direitos reservados.