

Segundo números da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG) entre 2011 e 2021 foram registrados 12.686 diagnósticos de HIV em pessoas com 60 anos ou mais. Um crescimento de 441%. Os dados, equivalentes ao período de uma década, trazem à tona um conjunto de questões e possíveis causas, entretanto, para a, esse avanço pode ser atribuído, principalmente, a dois fatores: o preconceito que ainda existe na sociedade ao achar que esse público não possui vida sexual ativa e a carência de campanhas acerca do assunto.
Embora pouco discutido, o tema é considerado tão relevante que, por meio da Lei nº 13.504/2017, foi instituído, no Brasil, a campanha Dezembro Vermelho com a finalidade de mobilizar a sociedade na luta contra o vírus HIV, a Aids e outras Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs). Segundo dados da SBGG, só. Os números revelam também 24.809 casos de AIDS e 14.773 mortes nessa mesma faixa-etária.
Conforme esclarecimentos da médica geriatra da SBGG, Alessandra Tieppo, há uma série de explicações técnicas para esse aumento de 441% no público idoso. “Na verdade, esse aumento do HIV na população idosa é multifatorial. Vai desde o próprio envelhecimento da população, o aumento do número de idosos, o hábito de vida desse paciente, como por exemplo, manter a atividade sexual por mais tempo, e, também, a detecção do HIV nessa população. (…) Por isso que apresenta esse aumento. E, muitas vezes, esse diagnóstico (…) acaba sendo um caso antigo que foi diagnosticado na fase tardia”, destacou.
A médica atribui o avanço dessa doença, sobretudo, ao preconceito ainda existente na sociedade. “Existe o preconceito contra a vida sexual da pessoa idosa. Então, é desconsiderado essa triagem como rotina nas consultas médicas. E, muitas vezes, nas internações prolongadas não se tem cuidado de fazer essa triagem. O principal ponto aqui é, justamente, a ignorância ou a falta de diálogo. Considera que a população idosa (…) não tem comportamentos de riscos que podem levá-la à infecção pelo HIV. É muito importante que a gente reflita sobre esses casos nessa população”, alertou a médica. Questionada se o tratamento para a população 60+ é diferenciado, comparado ao público mais jovem, a geriatra esclareceu que não, porém, apresentou algumas ressalvas.
“O tratamento do HIV nessa população não tem diferença, mas, ele pode se tornar complicado, justamente pelas comorbidades que esse paciente pode apresentar. Então, se torna um tratamento mais difícil para essa população. Mas, é o mesmo usado para a população jovem e para a população adulta”.
A terapia antirretroviral (TARV) é considerada o tratamento padrão para a infecção pelo HIV, por esse motivo, é indispensável para pacientes nessa condição. “Ela é essencial para que a gente diminua a carga viral no organismo, evitando que, assim, a AIDS se desenvolva. Então, é uma medicação que vai combater o vírus até ele se tornar indetectável no organismo. Essa terapia é destinada a todos os pacientes que têm o vírus do HIV e é disponibilizada no Sistema Único de Saúde (SUS)”, orientou a Alessandra.(A Tarde)
Foto: Olga Leiria / Ag. A TARDE / 29.11.2023