

Investir em ativos prefixados não é simples. Aposta neles quem acha que suas taxas vão cair em breve. O conceito é simples, mas a prática tem vários fatores que influenciam essa decisão e fazem com que os especialistas classifiquem o Tesouro Prefixado como o mais arriscado dos títulos públicos. Percebendo uma demanda forte por títulos desse tipo, o Tesouro Nacional promoveu, na última quinta-feira (13) um megaleilão de prefixados. Foram colocados à venda R$ 31,5 milhões em prefixados – sendo R$ 7,5 milhões com pagamento de juros semestrais –, um volume robusto, o maior desde março. A demanda pelos papéis foi forte, o que mostra apetite do mercado pelos prefixados. “Quando o Tesouro Nacional colocou na rua um dos maiores volumes de prefixados do ano e viu o mercado absorver praticamente tudo, a mensagem foi clara: há muito investidor institucional travando rentabilidade agora, não por impulso, mas por leitura macro”, Ricardo Trevisan, CEO da Gravus Capital.
A leitura macro dos investidores institucionais combina duas percepções: a de que o ciclo de afrouxamento monetário está próximo e a de que os prêmios atuais seguem atrativos, explica Enrico Gazola, economista pelo Insper e sócio-fundador da Nero Consultoria. Para Julio Ortiz, CEO da CX3 Investimentos, a inflação se mostrou “bem comportada” nos últimos meses e o risco de reversão de tendência de política monetária “é muito baixo” em um horizonte de dois anos, o que faz com que os prefixados sejam atrativos. Ou seja, para os agentes do mercado, vale a pena travar a rentabilidade agora porque o risco de alta dos juros – que traria marcação negativa para os papéis – é baixo e há previsibilidade em relação à trajetória da Selic. “Investidores institucionais, sobretudo, estão tentando antecipar esse fechamento de curva e garantir yields que provavelmente não estarão disponíveis adiante”, explica Gazola.
O que o investidor comum deve fazer?
Por mais que os grandes investidores estejam montando posições relevantes em prefixados, o investidor comum ainda precisa ter cautela. “Sim, os prefixados continuam oferecendo taxas interessantes (entre 12,68% e 13,64% ao ano) e podem ser uma oportunidade para fixar retornos antes de quedas maiores da Selic, mas isso não significa montar uma posição agressiva de imediato”, diz o especialista da Nero Consultoria. Para Gazola, a janela é favorável para os prefixados, mas ainda é prudente diversificar a carteira com posições em pós-fixados e títulos do Tesouro IPCA+ e “evitar apostar tudo em uma única visão de juros”.
Na mesma linha, Ricardo Trevisan diz que “não é hora de all-in, é hora de estratégia” e explica que os prefixados são indicados para investidores que têm objetivos de médio e longo prazo e que entendem que há oscilação nos preços até o vencimento. A única forma de garantir o retorno de um prefixado é carregando o papel até o vencimento: “quem arrisca sair antes do vencimento transforma um excelente título em uma dor de cabeça”. Trevisan e Gazola indicam os prefixados intermediários, com vencimentos entre 2027 e 2031. Para Trevisan, os papéis mais longos, com vencimento entre 2031 e 2035 podem ser vistos como “exposição tática”, ideal para quem pensa em se aposentar até lá ou ter uma renda semestral com os títulos que pagam juros a cada seis meses.
Por outro lado, Julio Ortiz prefere os títulos mais curtos, com vencimento em até dois anos. Ele considera esses papéis mais seguros: “dificilmente teremos mudança de cenário nos próximos 24 meses, e tudo indica que teremos redução da taxa de juros a partir do início do próximo ano. A queda da taxa diminui o juro real, beneficiando os ativos prefixados”. ‘Para investir em prefixados e mitigar riscos, que envolvem pico de inflação e mudanças na perspectiva para a política monetária, Trevisan indica casar o prazo do título com o objetivo: “prefixado de 2035 não serve para quem quer usar o dinheiro em 2027″; escalonar vencimentos, o que “reduz riscos e cria janelas de reinvestimento” e comprar aos poucos: “entrar em dois ou três aportes é a defesa mais inteligente contra a má sorte de travar a taxa no pior dia”. Enrico Gazola ainda destaca a importância de respeitar o vencimento dos títulos para mitigar riscos: “quanto mais próximo do vencimento você carregar, menor é a relevância das oscilações de curto prazo”. (Infomoney)
(José Cruz/Agência Brasil)