

O Brasil atravessa, de tempos em tempos, crises políticas que parecem repetidas. Mudam os escândalos, mudam os presidentes, mas o Congresso permanece quase o mesmo. Isso não é coincidência: a Câmara dos Deputados tem uma das maiores taxas de reeleição do mundo democrático, frequentemente acima de 70%. Em alguns estados, o índice passa de 80%. O resultado é previsível: quanto menor a renovação, maior a distância entre a sociedade e seus representantes.
A história recente oferece exemplos claros. O Congresso da década de 1990 ficou marcado pela compra de votos para aprovar a reeleição presidencial. O de 2015 a 2018 se notabilizou pelo fisiologismo explícito, pelo envolvimento de dezenas de parlamentares em delações da Lava Jato e por negociações orçamentárias que distorceram o papel do Legislativo. Já o Congresso atual consolidou a captura do orçamento pelas emendas e ampliou o poder de corporações, grupos religiosos e blocos que funcionam como castas políticas. A constante que liga essas fases é simples: deputados que se perpetuam no cargo, protegidos por estruturas eleitorais e pela força das emendas parlamentares.
Além disso, o Congresso atual tornou-se profundamente corporativo. Não responde aos anseios da população, mas às exigências de grupos organizados que financiam visibilidade e sustentam carreiras políticas. A agenda pública — saúde, educação, mobilidade, segurança — é frequentemente deixada de lado em favor de entregas “de vitrine”: pequenas obras, tratores superfaturados, reformas pontuais. Emendas que deveriam melhorar a vida dos brasileiros transformaram-se em moedas de troca para fortalecer redes eleitorais e garantir votos futuros. A prioridade não é o país, mas a própria sobrevivência política.
Apesar disso, a sociedade brasileira nunca teve uma campanha nacional direcionada ao problema central: a reeleição automática. Houve movimentos de voto consciente, como o Voto Consciente, o MCCE, a Lei da Ficha Limpa e iniciativas de transparência como os rankings de parlamentares. Todos importantes, mas insuficientes. Informar o eleitor não basta se a lógica de poder permanece intocada. É preciso romper o ciclo.
Não reeleger pode ser um gesto imediato que depende exclusivamente do cidadão. Não exige reforma política, não exige PEC, não depende do Senado, nem do STF. É uma decisão individual que, somada, tem força estrutural. Renovar metade da Câmara em uma única eleição já seria suficiente para alterar a liderança das comissões, reduzir o poder do centrão, diminuir a chantagem das emendas e quebrar redes regionais que funcionam há décadas como feudos com mandato garantido.
Mas o país não precisa apenas de novos nomes; precisa de novos ciclos. Reeleição não deve ser direito adquirido, mas consequência de mérito. Enquanto privilégios substituírem competência, o Congresso continuará sendo um espelho deformado do Brasil.
Por isso, em 2026, mude o Congresso Nacional com seu voto. A democracia agradece.



