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LULA TEM MUITO A GANHAR COM A COP 30, MAS TAMBÉM TEM A PERDER

Redação - 10/11/2025 10:58 - Atualizado 10/11/2025

A COP30, realizada em Belém, é mais do que uma conferência sobre o clima,  é um palco político, diplomático e simbólico de alcance global. Para o presidente Lula, o evento representa a chance de reafirmar o protagonismo internacional do Brasil e, ao mesmo tempo, fortalecer sua imagem interna, com efeitos políticos e eleitorais evidentes. Mas também carrega riscos: as contradições entre discurso e prática, a ausência de potências decisivas e as limitações financeiras do pacto climático podem transformar a vitrine em armadilha.

No plano internacional, a COP30 devolve a Lula o papel de liderança global que marcou seus primeiros mandatos. Ao sediar o encontro na Amazônia, o Brasil se apresenta como guardião do maior bioma tropical do planeta e defensor da justiça climática. O presidente encarna a “voz do Sul Global”, reivindicando que os países ricos paguem a conta da crise ambiental. O discurso é poderoso: o Brasil reduziu o desmatamento, tem 90% de energia limpa e propõe uma transição ecológica com inclusão social.

Essa narrativa reforça o prestígio diplomático do governo e projeta Lula como articulador entre blocos. A aproximação com a CELAC e com países africanos faz parte dessa estratégia de coalizão entre nações emergentes, buscando pressionar o Norte a financiar a preservação das florestas e a adaptação climática. Mas a ausência dos Estados Unidos e a hostilidade de Donald Trump — cujo secretário de Energia criticou publicamente a conferência — enfraquecem o alcance político das negociações. Sem o engajamento americano e europeu, as decisões da COP correm o risco de perder força prática e permanecer no campo do simbolismo.

O Tropical Forests Forever Fund (TFFF), proposto pelo Brasil, exemplifica o dilema. O fundo foi lançado como instrumento para financiar a conservação das florestas tropicais, mas recebeu adesões tímidas. Poucos países aportaram recursos, revelando a distância entre o entusiasmo diplomático e o comprometimento financeiro real. Para Lula, o TFFF é um marco de protagonismo — o Brasil propõe soluções —, mas também um lembrete das limitações de sua influência.

No campo interno, a COP30 traz dividendos políticos importantes. A presença de chefes de Estado, a atenção da mídia global e os investimentos em infraestrutura e turismo no Pará reforçam a narrativa de um governo que recolocou o Brasil “no mapa do mundo”. O evento ajuda Lula a dialogar com o eleitorado urbano e progressista que valoriza sustentabilidade e liderança internacional, ao mesmo tempo em que leva obras e empregos a uma região historicamente esquecida.

Contudo, o evento também oferece munição à oposição. Setores do agronegócio e da direita conservadora exploram as contradições entre o discurso verde e as ações do governo, como os leilões de petróleo na margem equatorial e as concessões a grandes empreendimentos. O argumento é simples: o governo fala de transição energética, mas aposta em combustíveis fósseis. Além disso, os custos da COP e a lentidão das obras em Belém podem ser usados como símbolo de desperdício e propaganda.

Eleitoralmente, Lula tenta transformar a COP30 em vitrine de resultados — redução do desmatamento, prestígio global, investimentos regionais. Mas a oposição tende a enquadrar o evento como espetáculo distante das preocupações cotidianas, explorando o contraste entre diplomacia climática e economia doméstica.

Em síntese, a COP30 é uma aposta de alto valor político. Se Lula conseguir traduzir o protagonismo internacional em resultados concretos — novos financiamentos, acordos de preservação, geração de empregos e fortalecimento da Amazônia —, sairá fortalecido como estadista e líder global. Mas, se a conferência terminar sem compromissos efetivos ou for marcada por contradições, o brilho internacional poderá se converter em desgaste interno.

A COP30, portanto, é tanto a consagração quanto o teste da política ambiental de Lula: um palco para projetar o Brasil como líder climático — ou um espelho das limitações que ainda impedem o país de transformar discurso em ação. (EP – 10/11/2025)

 

Foto: Bruno Peres/Agência Brasil

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