Especialistas de mercado esperam um corte na taxa básica de juros do Banco Central somente em 2026. Mesmo com as expectativas para inflação em queda, é difícil que a Selic tenha uma queda forte o suficiente ainda neste ano para mudar a posição da instituição.
No Boletim Focus desta segunda-feira (20), a previsão para inflação neste ano caiu para 4,7%, mas a projeção dos juros continuou em 15% ao ano, o que impacta desde o que a pessoa paga num empréstimo até a dívida do governo.
O economista e coordenador do curso de Administração do Instituto Mauá de Tecnologia, Ricardo Balistiero, aponta que a queda da inflação é explicada pela desvalorização do dólar e redução do preço de alimentos. O curioso é que, apesar de baixo, o desemprego não está pressionando a inflação.
“O desemprego está muito baixo. Se imaginava, numa situação como essa, uma inflação mais alta, mas não, ela está mais baixa. Isso sugere que talvez a nossa taxa neutra de desemprego tenha mudado no Brasil. Então esse é um ponto importante. A taxa neutra é aquela taxa em que você tem o desemprego que não pressiona a inflação.”
Balistiero acha que a inflação chega aos 4,5%, dentro do limite da meta, só no ano que vem. Mesma avaliação do professor de economia da Universidade Federal do Paraná, Marcelo Curado. Para ele, os dados ainda estão com uma variação muito pequena, por isso o Banco Central pode manter a cautela, com corte de juros só em 2026.
“É uma leitura que, na minha opinião, tem suas falhas. Mas é a leitura que a gente está há algum tempo, desde que instituiu o sistema de meta de inflação, no qual a taxa de juros acaba sendo a variável central de controle inflacionário. Há um medo do Banco Central em relação ao cenário externo, que de fato é um cenário muito instável, especialmente por conta da política americana das ações de Trump e domesticamente a questão fiscal.”
O economista Werton Oliveira, do Conselho Regional de Economia da Paraíba, lembra que o fim do ano costuma ampliar as vendas no comércio. A leve desaceleração da economia deve influenciar só ano que vem.
“É pouco provável que a gente tenha um corte de juros ainda este ano. O que isso pode impactar é justamente nas próximas reuniões do Copom, haja vista que a gente já percebe uma desaceleração um pouco tímida da economia, mas que pode influenciar as próximas reuniões do Copom, principalmente ao longo de 2026.”
O Boletim Focus ainda trouxe a previsão de crescimento de 2,17% da economia e o dólar fechando o ano a R$ 5,45.
Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil