Os transtornos alimentares entre adolescentes estão em crescimento no Brasil. Em audiência pública realizada na Câmara dos Deputados, em maio de 2024, pesquisadores revelaram que um em cada cinco jovens de 6 a 18 anos já apresentou algum transtorno alimentar, chegando a um terço no caso das meninas. O Ministério da Saúde também estima que até 10% dos adolescentes convivem com essas condições, que incluem anorexia, bulimia, compulsão alimentar e vigorexia. Esses distúrbios não afetam apenas o peso: comprometem a saúde física, emocional e social, e podem se associar a obesidade, sedentarismo, fadiga e distorção da imagem corporal.
De acordo com a nutróloga Suzana Viana, o tratamento precisa ser amplo e considerar fatores muitas vezes negligenciados, como o intestino. “A microbiota intestinal participa da produção de neurotransmissores como a serotonina, fundamentais para o humor e o equilíbrio emocional. Quando existe desequilíbrio, o adolescente pode apresentar mais ansiedade, compulsão e dificuldade para responder bem às terapias. Por isso, olhar para a saúde intestinal é essencial nesse processo de recuperação”, explica.
Como o intestino influencia o cérebro e o comportamento
O chamado eixo intestino-cérebro é a comunicação direta entre o sistema digestivo e o sistema nervoso central. Além de regular o metabolismo, a microbiota influencia a resposta inflamatória, o sono, o controle do apetite e o bem-estar emocional. Estima-se que 90% da serotonina do corpo seja produzida no intestino, o que ajuda a entender por que alterações neste órgão estão associadas a quadros de depressão, ansiedade e compulsão alimentar.
“A saúde intestinal não pode ser vista isolada da saúde mental. Quando o adolescente tem inflamações silenciosas, má absorção de nutrientes ou disbiose, ele não apenas sente no corpo, mas também nas emoções. Esse desequilíbrio impacta diretamente no tratamento de qualquer transtorno alimentar”, reforça Suzana.
Diagnóstico e acompanhamento integrado
A avaliação clínica deve ir além da alimentação e do peso corporal. Exames de composição corporal, marcadores inflamatórios, perfil hormonal e avaliação da microbiota podem trazer informações valiosas sobre como o organismo está reagindo.
“O adolescente precisa de acompanhamento interdisciplinar, com médico, psicólogo, psiquiatra e nutricionista trabalhando em conjunto. É essa integração que dá suporte não só ao corpo, mas também à mente, tornando o tratamento mais eficaz”, orienta Suzana.
Para Dra. Suzana, o maior desafio é mudar a forma como o adolescente enxerga sua própria saúde. “Não basta restringir alimentos ou controlar calorias. O foco deve ser o equilíbrio, a energia e o bem-estar. Quando o jovem entende que cuidar do intestino também melhora seu humor, sua disposição e sua autoestima, o tratamento deixa de ser uma punição e passa a ser um caminho para a autonomia e qualidade de vida”, conclui.
Suzana Viana
Suzana Viana é médica formada pela Faculdade de Tecnologia e Ciências (2013), com pós-graduação em Gastroenterologia pela Faculdade IPEMED (2019). Atua como nutróloga, auxiliando pacientes com problemas gastrointestinais, lipedema, disbiose, obesidade, menopausa e fertilidade.
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