O número de benefícios previdenciários concedidos por doenças mentais na Bahia subiu de 5.020, em 2014, para 15.189 em 2024. Antes disso, os maiores registros tinham ocorrido em 2023, com 8.898 afastamentos, e em 2020, primeiro ano da pandemia, com 8.443 casos. Os dados são do SmartLab BR, plataforma do Ministério Público do Trabalho (MPT) em parceria com órgãos como a Organização Internacional do Trabalho (OIT), Ministério da Saúde e Ministério do Trabalho e Emprego.
“Foi um aumento bem expressivo, principalmente se você considerar o panorama de 2022 a 2024, que pega o final da pandemia e teve um papel fundamental no estímulo a esse aumento, com a questão da plataformização dos ambientes de trabalho, o uso da tecnologia e o teletrabalho. Tudo isso facilita muito a vida das pessoas, mas também é um fator que gera adoecimento e aumento dos afastamentos”, analisa a procuradora do trabalho Carolina Novais.
Segundo especialistas, o afastamento costuma ser a última alternativa nesses casos, após tentativas de outras medidas. Para a psiquiatra Simone Paes, professora do Idomed – Instituto de Educação Médica, as relações sociais também têm gerado sofrimento.
“Isso acontece em todos os âmbitos, desde o escolar. Quando chega a nível de trabalho, tem se exacerbado porque as vulnerabilidades se encontram. A gente está tendo maior número de assédios e metas para bater. Exigências sempre existiram, mas a forma agora tem gerado sofrimento maior”, avaliou.
Entre 2014 e 2024, os afastamentos foram mais frequentes em bancos múltiplos com carteira comercial (21,8%), seguidos pela administração pública (14,1%) e atividades hospitalares (10,1%). Só em 2024, os bancos chegaram a 26% dos registros, enquanto a área hospitalar representou 11% e a administração pública, 10,8%.
Para a médica do trabalho e consultora Ana Paula Teixeira, o aumento também está relacionado à maior facilidade de acesso ao benefício, com a criação do sistema Atestmed, que permite análise remota de atestados médicos, sem necessidade de perícia presencial.
“Nós também precisamos lembrar que a gente vive em um contexto socioeconômico com as telas, as redes sociais, a solidão crescente, as fake news, a instabilidade política e a violência. Então a gente vive nesse mundo instável, frágil e acelerado que também contribui para o aumento dos transtornos mentais”, destacou.
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