Você já ouviu falar sobre o termo ‘ghostworking’, ou ‘trabalho fantasma’, em português? Essa é uma tendência preocupante e que vem crescendo em ambientes corporativos nos debates sobre gestão e produtividade, pois trata-se de colaboradores que aparentam estar ocupados, mas não entregam resultados reais. De acordo com o Relatório de Inovação no Trabalho de 2024 da Asana – plataforma de gerenciamento de trabalho e produtividade, 65% dos profissionais admitem realizar tarefas apenas para parecer ocupados. Ainda segundo o levantamento, os funcionários que adotam esse comportamento, chamado de “teatro da produtividade”, têm 13% mais chance de ter burnout.
A médica do trabalho, consultora e especialista em Saúde e Bem-estar, Ana Paula Teixeira, detalha como funciona o ‘ghostworking’. “Na prática, esses profissionais aparentam produtividade sem realmente executar tarefas relevantes. Ou seja, em vez de se dedicarem às atividades do dia a dia, fingem estar ocupados através de vários artifícios, como simulando presença online, criando documentos desnecessários, criando reuniões irrelevantes, inventando ligações telefônicas, circulando no ambiente de trabalho, dentre outros. Assim, embora o colaborador aparente estar engajado, esses colaboradores pouco contribuem para os resultados reais da equipe, gerando uma percepção falsa de eficiência e comprometendo o desempenho da organização”.
E por que esse hábito vem crescendo nos ambientes corporativos? A médica do trabalho conta que o ‘ghostworking’ levanta alertas sobre gestão e saúde organizacional. “Muitas vezes, esse comportamento surge em contextos de liderança frágil ou sobrecarregada, onde a delegação de tarefas é feita sem acompanhamento efetivo de resultados. Líderes inexperientes ou omissos podem confundir permissividade com boa liderança, negligenciando o monitoramento e a clareza nas entregas. Outros motivadores são falta de clareza nas tarefas, processos redundantes, desmotivação generalizada da equipe, ausência de sentido com o trabalho e, até mesmo, sobrecarga”, detalha Ana Paula Teixeira.
Para evitar essa prática, é fundamental promover uma cultura de confiança e responsabilidade. “Isso exige líderes capacitados, processos bem definidos e um ambiente de confiança, onde feedbacks sejam constantes e transparentes”, enfatiza. Estabelecer metas objetivas, manter canais abertos para feedback contínuo, desenvolvimento contínuo da liderança e valorizar o bem-estar emocional dos times são ações estratégicas. Do lado do colaborador, é importante alinhar expectativas, buscar conexão com o propósito do trabalho e comunicar dificuldades antes que o desengajamento vire rotina. Afinal, o trabalho fantasma é um sintoma e não a causa de problemas mais profundos na gestão de pessoas”, conclui Ana Paula Teixeira.
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