quinta, 07 de agosto de 2025
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ARMANDO AVENA – O IMPACTO DAS TARIFAS DE TRUMP NA BAHIA

Redação - 07/08/2025 08:55 - Atualizado 07/08/2025

O impacto da tarifa adicional de 40% sobre o Brasil que, adicionada aos 10% já anunciados em abril, atinge os 50%, imposta pelo governo de Donald Trump, vai impactar a economia baiana. Não de forma generalizada, mas de forma localizada, afetando setores específicos. No global, as exportações baianas para os Estados Unidos foram de cerca de US$ 880 milhões em 2024, o que representa 7,5% do total.

Atualmente, mais de 40% das vendas externas da Bahia têm a Ásia como destino, sendo que quase 30% vão para a China e, portanto, o impacto é pequeno, especialmente porque, entre as exceções listadas, estão a celulose e os derivados de petróleo, dois entre os três maiores itens da pauta de exportação. Mas alguns segmentos serão fortemente afetados.

As listas de exceções atingiram apenas 33% dos produtos que a Bahia exporta para os EUA, e produtos como café, cacau e frutas, com vendas expressivas para os EUA, não foram contemplados. Mas o impacto será diferenciado. Os derivados de cacau – especialmente a manteiga de cacau –, que representam cerca de 15% das exportações, serão impactados, e isso atinge uma cadeia do agronegócio que envolve mais de 40 mil trabalhadores e 17 municípios. Mas eles estão com alta demanda global e preços elevados, não sendo difícil encontrar novos compradores.

O mesmo se pode afirmar com relação ao café, mas, no caso da fruticultura, com destaque para a manga produzida no Vale do São Francisco, a situação é grave. Cerca de 30% da manga do Vale do São Francisco é destinada aos Estados Unidos, e, caso o produto não seja incluído nas listas de exceções, haverá perdas significativas.

O setor industrial baiano é o que mais vai sofrer, e a Federação das Indústrias do Estado da Bahia (Fieb) estima em US$ 491,3 milhões de produtos baianos, aqueles que estão sujeitos à taxação, o que afetaria cerca de 270 produtos industriais. Haverá forte impacto nos produtos petroquímicos, que representam 23,5% das exportações para o mercado americano, e na produção de pneus, que participa com quase 12%.

Aliás, as três fábricas de pneus terão tarifa de 25%, metade da que será aplicada a outros produtos, mas o setor enfrenta uma forte concorrência da importação de produtos asiáticos no mercado interno e o mercado americano era uma alternativa de ampliação das vendas. Empresas produtoras de ferroligas, fertilizantes, minerais, metalurgia, conservas e sucos, massas, bolachas e biscoitos, couro e calçados, fumo e outras também foram atingidas.

Já no caso da indústria química, o mercado norte-americano é um importante destino para produtos petroquímicos básicos, intermediários, e para plastificantes, resinas e fibras.

Aliás, a indústria petroquímica brasileira, incluindo o Complexo Petroquímico de Camaçari, que já enfrenta uma crise de excesso de oferta no mercado internacional, será fortemente afetada. Segundo a Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim), 82% das exportações brasileiras de produtos químicos para os EUA, que somaram US$ 2,4 bilhões em 2024, e estão concentradas em 50 produtos – abrangendo petroquímicos básicos, intermediários orgânicos e resinas termoplásticas – serão impactadas.

Outros segmentos, caracterizados pelas indústrias de pequeno porte, também vão sofrer redução nas vendas, já que a tarifa de 50% tornará quase impossível competir com outros fornecedores.

O governo federal e estadual, bem como o setor privado, estão se mobilizando para evitar uma crise que resulte em ociosidade e desemprego. A redução das alíquotas e a inclusão de mais setores nas exceções são os caminhos junto ao parceiro norte-americano, mas internamente também será necessário adotar medidas de apoio aos setores mais atingidos.

COMO ENFRENTAR O TARIFAÇO

Os setores baianos afetados pelo tarifaço de Trump têm de se inserir nos programas de apoio do governo federal. Além do apoio para que produtores busquem novos mercados, o governo pretende oferecer crédito subsidiado. Também estão previstas compras governamentais, como a compra pública de alimentos para merenda escolar e outros, e o estabelecimento de programas temporários de renúncia fiscal. A indústria petroquímica pode se beneficiar. Há também um projeto de lei que mitiga os efeitos da crise na petroquímica, o Presiq – Programa Especial de Sustentabilidade da Indústria Química, que vou comentar posteriormente. Não resolve o tarifaço, mas ajuda o setor.

A MINERADORA VALE E A BAHIA

Beirou ao descaso as declarações do vice-presidente da Vale, Marcelo Bacci, sobre a possibilidade de a mineradora Vale entrar no projeto da Bamin Mineração. Sem apresentar números, o executivo afirmou peremptoriamente que a mina da Bamin não tem ferro suficiente para justificar o investimento na Fiol 1, o trecho inicial da Ferrovia Oeste-Leste, incluído no projeto. Bacci disse sem provas que  o projeto não pára em pé e que é preciso buscar alternativas para o aumento do volume de carga na ferrovia. E disse: “A Vale é uma empresa de mineração, nós não somos uma empresa logística.” Alguém precisa apresentar a ele as  ferrovias e serviços portuários da Vale.

Publicado no jornal A Tarde em 07/08/2025

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