No Dia Nacional do Diabetes, celebrado em 26 de junho, especialistas alertam para a conexão pouco discutida entre a doença e problemas digestivos. Na Bahia, onde aproximadamente 8% da população adulta convive com diabetes, segundo estimativas da Secretaria de Saúde do Estado, muitos pacientes desconhecem que os sintomas gastrointestinais podem estar diretamente relacionados à condição. A relação entre diabetes e saúde digestiva representa um desafio adicional para os mais de 1,2 milhão de baianos que convivem com a doença.
“Existe uma interação bastante significativa — e muitas vezes subestimada — entre o diabetes e o sistema digestivo. O diabetes pode afetar diretamente o funcionamento do trato gastrointestinal, especialmente por meio de danos aos nervos que controlam a digestão, o que chamamos de neuropatia autonômica”, explica a endocrinologista da CliaGEN, Dra. Marina Cabral.
Segundo a especialista, esta é uma via de mão dupla: enquanto o diabetes prejudica o sistema digestivo, problemas digestivos também podem dificultar o controle glicêmico, criando um ciclo que precisa ser monitorado constantemente.
Entre os problemas mais comuns estão a gastroparesia (quando o esvaziamento do estômago é retardado), refluxo, constipação e diarreia intermitente. “Os sintomas mais frequentemente relatados incluem náuseas, sensação de estômago cheio logo após começar a comer, refluxo, constipação intestinal e, em alguns casos, diarreia intermitente”, relata a Dra. Marina.
Como o diabetes afeta diferentemente o sistema digestivo
A médica também destaca que existem diferenças significativas entre os tipos de diabetes. “A gastroparesia tende a ser mais comum e mais grave em pessoas com diabetes tipo 1, especialmente aquelas com longo tempo de doença e controle glicêmico inadequado. Já no tipo 2, que costuma estar associado à obesidade e à síndrome metabólica, vemos mais frequentemente problemas como refluxo gastroesofágico, constipação e doenças hepáticas, como a esteatose hepática”, esclarece.
Quanto aos sinais de alerta, a endocrinologista orienta: “Todo sintoma persistente ou que altere a qualidade de vida deve ser avaliado. Mas alguns sinais de alerta incluem: náuseas frequentes, vômitos após as refeições, dor abdominal sem causa aparente, constipação grave ou diarreia persistente”.
Dra. Marina menciona que alguns medicamentos para diabetes podem influenciar a saúde digestiva. “Os agonistas do receptor de GLP-1, como a semaglutida, além de ajudar no controle glicêmico e na perda de peso, também retardam o esvaziamento gástrico, o que pode ser útil em alguns casos”, afirma.
Para finalizar, a médica deixa uma mensagem aos pacientes: “Não subestime os sinais do seu corpo. A saúde digestiva é parte fundamental do controle do diabetes. Problemas no sistema gastrointestinal podem interferir diretamente no controle glicêmico, na absorção de nutrientes e na qualidade de vida. Diabetes bem controlado é sinônimo de mais saúde e autonomia.”
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