Açodamento é o ato ou efeito de açodar-se, ou seja, indica afobação, ansiedade, precipitação. E, quando se trata de política, o açodamento é sempre, ou quase sempre, ruim. O senador Otto Alencar, que sabe muito de política, foi didático quando disse, na semana passada:
“Na política, só se toma decisão quando o momento exige. Quando toma antes, é precipitado. Quando toma depois, é retardado. Então, vou tomar a decisão correta na hora certa”, afirmou, referindo-se à posição do seu partido, o PSD, na composição da chapa que irá disputar a eleição para governador do Estado.
O senador Jaques Wagner, por exemplo, lançou, em janeiro de 2025, quase dois anos antes do processo eleitoral, a chapa que iria concorrer ao governo do Estado, chamada de “puro-sangue” por ter o governador Jerônimo Rodrigues como candidato à reeleição, e como candidatos ao Senado, o próprio senador e o ex-governador Rui Costa, todos filiados ao PT.
Wagner podia até ter suas razões para fazer o anúncio com tanta antecedência, mas, por isso mesmo, a declaração foi açodada. O senador pretendia demarcar território, evitar que houvesse uma corrida partidária em relação aos cargos, e que se repetisse a indecisão que marcou a montagem da chapa da base aliada em 2022 e que resultou no rompimento com o vice-governador João Leão, do Progressistas.
A intenção foi boa, mas o anúncio foi açodado e deu margem ao surgimento de insatisfações e movimentações no âmbito dos partidos que compõem a base aliada.
O senador Ângelo Coronel, por exemplo, postulante declarado à reeleição no Senado, sentiu-se preterido e passou a criticar a decisão, às vezes de forma contundente, pautando o assunto na mídia e gerando um desgaste desnecessário entre os governistas.
O anúncio colocou todos os partidos “en garde”, seja o MDB, que esperava manter sua posição, ou os demais componentes da base aliada que ansiavam por espaço na chapa.
ACM Neto também foi picado pela mosca do açodamento e desde maio de 2024 vem anunciando em alto e bom som que seu candidato à Presidência da República é o governador de Goiás, Ronaldo Caiado.
Além disso, Caiado lançou sua candidatura em Salvador, sem a presença dos líderes do seu partido, o União Brasil, e segue fazendo campanha no interior da Bahia, sempre acompanhado de ACM Neto.
O ex-prefeito e provável candidato da oposição ao governo da Bahia tem suas razões e, além da afinidade ideológica e pessoal, pretende mostrar que não repetirá nesta eleição o famigerado “tanto faz” da eleição de 2022, quando alardeava que não importava qual era o candidato à Presidência que ele apoiava.
O problema é que esse apoio tão decidido, tanto tempo antes da eleição, dificulta a ampliação dos apoios à sua candidatura ao governo do Estado, pois parece óbvio que Ronaldo Caiado não apresenta a mínima condição para ser um candidato competitivo. E isso pode se tornar um problema grave se o ex-governador de Goiás levar adiante sua candidatura a ferro e fogo e, com ela, o apoio de ACM Neto.
E não vale dizer que a eleição tem dois turnos e que no segundo turno a direita se unirá; afinal, quem quiser ser governador da Bahia terá de apoiar, já no primeiro turno, o candidato a presidente com melhores condições de enfrentar o presidente Lula, sob pena de, simplesmente, não haver segundo turno.
O ex-prefeito ACM Neto também demonstra açodamento com esse apoio quase incondicional ao governador de Goiás e, assim, pode prejudicar a formação de uma chapa partidariamente mais ampla.
O fato é que o senador Otto Alencar parece estar certo: em política, não cabe açodamento. A decisão correta tem de ser tomada na hora certa. (EP-19/05/2025)