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ARMANDO AVENA – A ECONOMIA DA FÉ

Redação - 17/04/2025 05:00 - Atualizado 17/04/2025

Esta coluna foi a primeira a criar, faz mais de 30 anos, o termo Economia do Axé, para representar toda a cadeia econômica formada em torno do carnaval e da música baiana. Pois bem, agora que estamos na semana santa, é uma boa hora para destacar um outro segmento econômico que a cada dia amplia sua importância na Bahia: A Economia da Fé.

A economia da fé configura-se como uma cadeia econômica que gira em torno da crença ou do gosto pela fé e que, ao envolver  turismo, manifestações culturais, comércio, festa e eventos, produção de adereços e símbolos, gera todo um circuito econômico capaz de gerar emprego, renda e oportunidades de negócios. E na Bahia, quando falamos na economia da fé, estamos nos referindo à cadeia produtiva de todas as religiões, especialmente aquelas que reúnem católicos, evangélicos, o candomblé e todas as crenças de matriz africana.

Salvador é a capital baiana da fé e há séculos os turistas são mobilizados pelas 370 igrejas da cidade – cinco a mais que os dias do ano.  A religiosidade católica está entranhada na cultura, no patrimônio e no povo de Salvador desde sempre. E há séculos a cultura e a fé nos orixás atraem milhares de pessoas para as festas e as manifestações do candomblé, também impregnadas na cultura e no patrimônio da cidade. E, mais recentemente, os evangélicos ampliaram sobremaneira sua atuação e o povo da terra e milhares de turistas se mobilizam para ver os eventos e as manifestações da fé gospel.

Salvador é, sem dúvida, o principal destino do turismo religioso na Bahia. E, se antes a cidade já era inteiramente religiosa em todos os seus cantos, se a lavagem do Bonfim,  que homenageia o Senhor do Bonfim e Oxalá, e outras tantas festas do nosso calendário, já eram atrações do turismo religioso, agora existem mais opções, que incluem roteiros definidos permitindo ao turista caminhar pelos santuários em caminhos de fé, como o de Santa Dulce dos Pobres.

Tão importante tornou-se o turismo religioso em Salvador que agentes de viagens de vários estados brasileiros já comercializam pacotes de passeios, tendo como referência os roteiros desenvolvidos pelos grupos religiosos em parceria com o poder público.

Mas o turismo religioso se expande por toda a Bahia e outra cidade, Bom Jesus da Lapa, pleiteia o título da capital baiana da fé. A Romaria do Bom Jesus, considerada a terceira maior romaria do Brasil e a mais antiga do país, é um elo importantíssimo na corrente que forma a economia da fé na Bahia. A romaria ocorre há mais de 300 anos, reúne cerca de 2 milhões de pessoas e a movimentação financeira e as oportunidades de negócios de um evento desse porte são enormes.

E, além de Salvador e Bom Jesus da Lapa, pode-se citar Monte Santo, conhecida como a Jerusalém brasileira;  a peregrinação mística de frei Damião, em Ituaçu; a maravilhosa festa da Irmandade da Boa Morte, em Cachoeira, que todos os anos atrai turistas do mundo inteiro – um símbolo do sincretismo e da força das mulheres negras que há duzentos anos, homenageiam Nossa Senhora da Glória e Nanã e, naturalmente, a linda Oxum, rainha do Paraguaçu; os grandes eventos evangélicos, como cruzadas e congressos gospel, em Feira de Santana; os eventos em Santa Brígida e Canudos; a Comunidade Cidade Santa, em Dias D’Ávila, que recebe 2 milhões de pessoas por ano, segundo a prefeitura; e muitos outros.

O fato é que a economia da fé já é uma realidade na Bahia e há estimativas de que só em Salvador a movimentação em volta do turismo religioso alcance R$ 1,8 bilhão por ano. São estimativas e é preciso uma mensuração oficial da importância dessa economia e mais apoio do poder público as manifestações religiosas. Fé também é riqueza.

A CONCESSÃO DO FUTURO

A concessão da antiga Via Bahia, que inclui as rodovias BR 324 e BR-116 é fundamental para a Bahia e deve ser acompanhada de perto. A BR 324, por exemplo, tem um volume de tráfego que faz dela uma das mais rentáveis concessões do país, desde que seja bem administrada. E é fundamental que esteja previsto a construção de uma terceira faixa nas duas pistas e logo nos primeiros anos da concessão. Isso precisa ser discutido nas audiências públicas.  Em relação a BR-116 já há propostas de duplicação imediata de 355 quilômetros e mais 237 km de faixas adicionais nos 633 quilômetros da estrada. Não pode ser menos, afinal, a Bahia já perdeu muito com a Via Bahia e não pode errar de novo.

Publicado no jornal A Tarde em 17/04/2025

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