Embora a participação feminina no mercado de trabalho brasileiro tenha crescido nas últimas décadas, o acesso das mulheres a posições de comando ainda enfrenta entraves estruturais. Segundo o estudo “State of Women in Leadership”, realizado pelo LinkedIn, apenas 32% dos cargos de liderança no país são ocupados por mulheres, um índice que permanece praticamente estagnado desde 2022, após um avanço modesto de três pontos percentuais desde 2015
Um dos principais gargalos é a dificuldade das profissionais em avançar nas etapas intermediárias da hierarquia corporativa. Esse fenômeno, conhecido como “broken rung” ou “degrau quebrado”, impede que mulheres deixem funções operacionais e ascendam à gerência – e, mais ainda, da gerência para a diretoria ou vice-presidência. O estudo revela uma queda de 17% na presença feminina entre gerência e diretoria e de 21% entre diretoria e vice-presidência.
A desigualdade se acentua em setores tradicionalmente masculinos. Áreas como tecnologia e finanças registram um esvaziamento ainda maior da presença feminina à medida que os cargos se tornam mais estratégicos. Nesses segmentos, a participação das mulheres pode cair até 46% na transição entre níveis hierárquicos. A baixa representatividade no topo das organizações reflete dinâmicas históricas que favorecem trajetórias masculinas e reforçam vieses inconscientes.
O cenário não é exclusivo do Brasil. Em toda a América Latina, o número de contratações em janeiro de 2025 foi 22% menor que no mesmo mês do ano anterior. Em escala global, as mulheres representaram 45% das admissões no início deste ano, um índice 1,6 ponto percentual inferior ao de 2024. Para Eduarda Camargo, Chief Growth Officer da Portão 3 (P3), esses dados indicam que, em vez de avançar, a equidade de gênero pode estar em risco de retrocesso diante de incertezas econômicas e reestruturações corporativas.
“Para mudar esse cenário, o estudo propõe uma transformação nos processos de seleção e promoção. A adoção de critérios baseados em competências, e não apenas no histórico profissional, pode aumentar em até 13 vezes as chances de mulheres ocuparem posições de liderança. Além disso, essa abordagem favorece a entrada feminina em funções sub-representadas, como engenharia, logística e construção, ampliando a diversidade funcional em até 12%”, explica.
A superação das barreiras à ascensão feminina não virá apenas com boas intenções. Revisar políticas internas, oferecer mentorias estruturadas e garantir transparência em promoções e remuneração são passos essenciais. A presença de mulheres em posições estratégicas não é apenas uma questão de justiça – é também um diferencial competitivo. Empresas mais diversas impulsionam a inovação, melhoram a performance financeira e refletem, de fato, o mundo que pretendem atender.
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