Em tempos de crise climática, com enchentes e incêndios fora de controle trazendo riscos inesperados a nossa saúde, a atenção para focos de mofo e fungos (seja em casa ou local de trabalho) é importante para evitar problemas de saúde que vão além de micoses, inflamações e alergias. Casos recentes confirmam que a exposição a esse ambiente no médio prazo pode resultar em quadros mais graves como meningite, déficit cognitivo, insuficiência pulmonar, depressão e em alguns casos levar até a morte. O assunto será tema do evento “Impacto do mofo nos ambientes e os riscos para a saúde humana”, promovido pela Fiocruz Bahia, em 28 de março na capital baiana.
O cuidado deve ser redobrado para ambientes com maior humidade e pouca ventilação ou na recuperação de locais que passaram por enchentes, como a ocorrida no semestre passado no Rio Grande do Sul, alertam os especialistas. Segundo a doutora Nelzair Vianna, pesquisadora em Saúde Pública da Fundação Oswaldo Cruz/Bahia, palestrante desse encontro que abordará o assunto da perspectiva científica, a presença do mofo no ambiente ocorre pela degradação da matéria orgânica, é de onde identificamos o cheiro. Uma outra característica é que ele é visível. No caso dos fungos muitas vezes você não sente o cheiro e seus esporos ficam dispersos no ar – daí vem o perigo e a dificuldade em eliminá-los.
Estudos apontam que a exposição a esporos pode danificar as vias aéreas pela produção de toxinas, enzimas e compostos orgânicos voláteis, com repercussões psiquiátricas e neurológicas, confirmam estudados. Existem casos médicos comprovados ligando a presença de mofo a insuficiência pulmonar e a demência. Existem casos clínicos de infecção fúngica no cérebro (meningite) que se não for tratada adequadamente pode resultar em sequelas graves e até a morte. “Esses casos infelizmente são subdiagnosticados e o tratamento é muito caro”, observa a médica. Limpeza e higienização constante desses ambientes é a principal dica para se evitar a contaminação e proliferação desses microrganismos. A receita básica é água sanitária e desinfetantes – nunca misturados, escolha um ou outro, aconselha a médica.
Cientificamente falando, mofo ou bolor é uma das estruturas que os fungos podem formar e seu acúmulo no longo prazo pode trazer sérios risco a saúde. Fato é que a poluição do ar de ambientes internos tem consequências sérias imediatas e de longo prazo. Aliado a isso, sabemos que a preocupação com a qualidade do ar não tem sido considerado prioridade para a sociedade e empresas. A médica defende uma mudança de paradigma, visto que com a tecnologia atualmente disponível é possível controlar mais doenças pela qualidade do ar e do ambiente. Na visão da especialista, este não é só um problema médico precisamos da colaboração de outras áreas, como a engenharia, e medidas práticas como a filtragem do ar, uso de máscaras e sistemas de ventilação adequados, entre outras medidas.