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O IFOOD VAI REVOLUCIONAR A CONSTRUÇÃO CIVIL – RAFAEL VALENTE, PRESIDENTE DO GRUPO CIVIL

João Paulo - 24/02/2025 08:47 - Atualizado 24/02/2025

A construção civil precisa se reinventar diante das profundas mudanças no mundo do trabalho. Curiosamente, o Ifood, e a forma revolucionária como transformou nossa forma de pedir comida, possivelmente acabe sendo o maior catalizador do avanço dessas mudanças no setor no Brasil.

A área como um todo tem sofrido com a escassez de mão-de-obra qualificada, especialmente jovem – o que acaba se manifestando através da elevada média de idade dos profissionais em atuação. Nesse cenário, reportagens sobre o tema descrevem o fenômeno dando ênfase ao fato demuitos profissionais preferem realizar entregas ou transportar passageirosdo que trabalhar em construções.

Fora isso, é preciso considerar, ainda, que existe uma parcela da populaçãoque opta pela informalidade para não perder os benefícios sociais. Já existem, inclusive, movimentações do setor da construção civil propondo um modelo de flexibilização para o Bolsa Família, por exemplo. A justificativa é que o benefício, apesar de extremamente importante, incentiva uma dependência involuntária de quem recebe o auxílio, o que prejudica a oferta de mão-de-obra.

Enquanto os ventos já sopram anunciando mudanças, e, consequentemente, circunstância desafiadoras, a indústria da construção não pode se dar ao luxo de parar. O passado recente, marcado por uma pandemia, é uma prova disso. Mesmo diante das adversidades do período, muitas obras não pararam, contribuindo para que a economia brasileira não paralisasse. Por que agora seria diferente?

Acredito que, assim como aconteceu naquela época, o setor irá se reformular. Porém, isso depende especialmente do investimento em novas tecnologias construtivas. Uma das saídas diante do atual impasse do setor é transformar canteiros de obra em canteiros de montagem. Nesse contexto, os pré-fabricados despontam como alternativa para consolidar uma nova fase para o setor. Esse modelo de construção é caracterizado pela produção das partes de uma edificação fora do local onde efetivamente ela ficará.

Ao realizar uma parte considerável do trabalho em ambiente controlado, o risco de defeitos e falhas estruturais acaba sensivelmente reduzido. Além dessa vantagem, os pré-fabricadas se destacam como uma via eficaz e viável para construir de forma rápida e sustentável, atenuando sensivelmente o uso de mão-de-obra. Isso envolve, inclusive, deixar de lado o aspecto mais físico das rotinas de trabalhadores que seguirem na área a partir do aumento no uso de tecnologias.Inclusive, atividades como carregar sacos de arreia ou cimento, embora necessárias,desgastamo trabalhador e pouco agregam para o valor final da obra.

Outra vantagem da tecnologia é a redução drástica no desperdício de matéria prima, alcançada pelo uso de equipamentos associados a uma logística precisa. Assim, as empresas poderão tornar ainda mais inversamente proporcional a relação entre aumento de produtividade e custos para inviabilizar projetos.

Devo acrescentar, contudo, que não acredito que os investimentos em pré-fabricados representarão o fim do aspecto artesanal da profissão de pedreiro. Profissionais que realizam revestimento de pedra com encaixes perfeitos precisam e continuarão sendo valorizados. Eles encontrarão espaço em obras de alto valor, e serão bem remunerados pelo que são capazes de fazer ao empregar técnicas de alta complexidade em materiais naturais.

De formas distintas, a carreira na construção civil seguirá seu propósito e aspecto mais fascinante, e empolgante, que é a transformação de diferentes tipos de insumos em algo com estrutura e utilidade. Lembro de pensar nisso enquanto observava meu filho se divertindo em um parque que simulava um canteiro de obras certa vez. Essa é uma área capaz de despertar interesse desde muito cedo, independente do apelo que as telas e avanços tecnológicos têm com os jovens.

Avalio que com os estímulos certos, as novas gerações conseguirão conciliar ambos os aspectos, e manter o brilho nos olhos pela carreira. Porém, o setor da construção civil não pode perder de vistas mudanças imediatas com o objetivo de alcançar esses efeitos ao longo prazo. A presença mais intensa dos Recursos Humanos no canteiro de obras será peça chave nesse processo.

Cabe as empresas também oferecer e estimular a capacitação constante do trabalhador, incentivando a busca por conhecimento com planos de carreira que ofereçam progressão por meio da meritocracia – entre outras práticas que reconheçam e valorizem o trabalhador do “chão de fábrica”.  É crucial que o melhor para a construção civil ande de mãos dadas com o melhor para os operários da área. Eles precisam se sentir reconhecidos, satisfeitos e dignos.

Afinal, tecnologias inovadoras – novas ou não – sempre vão precisar de pessoas capacitadas para serem utilizadas e entregar os bons resultados almejados.

 

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