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ALIMENTAÇÃO CONTINUA SENDO O MAIOR VILÃO NO BOLSO DO CONSUMIDOR

João Paulo - 24/02/2025 06:58 - Atualizado 24/02/2025

O preço dos alimentos continua crescendo e assustando os consumidores no Brasil. Secas e enchentes mais frequentes, pandemia, guerra na Ucrânia e alta do dólar fizeram com que as compras do supermercado ficassem bem mais caras nos últimos anos. Com isso, o peso dos gastos com alimentação no orçamento das famílias brasileiras aumentou de forma significativa, fazendo com que qualquer alta no preço desses itens agora seja percebida de forma bem mais intensa pelos consumidores, sobretudo os mais pobres.

Estudo do economista André Braz, coordenador de Índices de Preços da FGV, ao qual O GLOBO teve acesso com exclusividade, mostra que os alimentos já consomem 22,61% do orçamento das famílias de renda mais baixa (de 1 a 1,5 salário mínimo). Em janeiro de 2018, essa proporção era significativamente menor: 18,44%. Esse avanço se deu mesmo com a retomada da política de aumento do salário mínimo (atualmente em R$ 1.518) acima da inflação em 2023.

Desde o início de 2020, pouco antes da pandemia, a alimentação no domicílio acumula alta de 55,87%, bem acima dos 33,46% da inflação média brasileira medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), do IBGE, no mesmo período. Foram anos seguidos de altas fortes, à exceção de 2023, quando o peso do grupo alimentar no orçamento ficou praticamente estável, com leve queda de 0,52%. — Como é um consumo de itens básicos, você pode até substituir itens da alimentação, mas não deixa de comprar. A despesa vai comprometendo parte cada vez maior do orçamento — explica Braz.

A inflação de alimentos é um dos fatores que têm sido apontados para explicar a queda da popularidade do presidente Lula. O professor Luiz Roberto Cunha, professor da PUC-Rio e especialista em inflação, diz que a previsão é que esse grupo de produtos suba menos que a inflação média neste ano. Mesmo assim, como são aumentos em cima de aumentos, o consumidor está mais sensível a qualquer reajuste no supermercado. Cunha prevê que o IPCA termine 2025 em 5,03% e que a a inflação dos alimentos, em 3,91%. — Alimentação subiu muito desde 2020, tem ficado acima da inflação. Mesmo se parar de subir, está num patamar alto. Qualquer alta tem peso maior no bolso do consumidor. A carne deve subir menos este ano, 6%, mas depois de já ter aumentado 20% no ano passado.

A economista Maria Andreia Parente, do Ipea, diz que o peso crescente da comida no orçamento doméstico “potencializa” o impacto do reajuste de alimentos. Ou seja, faz as famílias terem percepção maior da alta nos supermercados ou nas feiras. Ela acompanha os índices de inflação por faixa de renda. Entre os que têm renda domiciliar muito baixa, de até R$ 2.202,02, o comprometimento já chega a 29%.

— Para os mais pobres, com orçamento mais restrito, o aumento de preços pesa proporcionalmente mais. Ainda mais quando atinge produtos básicos, como aconteceu no ano passado, quando subiu o preço de carne, frango, leite, ovos e pão — diz a pesquisadora. Com a inflação dos alimentos, o grupo de produtos consome mais das famílias que os gastos com habitação, que incluem aluguel, luz e gás, e já ultrapassou os transportes. O vigilante Edson Falcão Júnior, de 44 anos, teve de fazer adaptações para encarar a alta nos itens alimentícios. Sobrando menos no bolso depois de garantir a comida da família, ele precisou mexer na cobertura do plano de saúde. E cada ida ao supermercado é precedida por intensa pesquisa de preço. — Se não for assim, a gente não consegue comprar as coisas. A carne está com o preço lá em cima. Se a gente não consegue comprar num dia de promoção, troca por uma carne mais barata — conta.

Foto: Imagem de JerzyGórecki por Pixabay

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