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TUTORA ACUSA CASTRAMÓVEL DE NEGLIGÊNCIA VETERINÁRIA APÓS PERDA PREMATURA DE SEU PET; ENTENDA O CASO

Bruna Carvalho - 31/01/2025 10:03

Nesta terça-feira (28), as redes sociais da Diretoria de Promoção à Saúde e Bem-estar Animal (Dipa) — lotada na Secretaria Municipal de Sustentabilidade, Resiliência, Bem-estar e Proteção Animal (Secis) — foi bombardeada por comentários de internauta pedindo um posicionamento da entidade sobre o falecimento precoce de uma gatinha, durante um procedimento de castração.

Em entrevista ao portal Bahia Econômica, a tutora Xaiane Massena conta que levou a sua gata de 11 meses, Flora, para o procedimento no Castramóvel do bairro do Bonfim, localizado no CTM Dr. Álvaro Rubin de Pinho, na segunda-feira (27). Apenas com as instruções de que o animal deveria estar saudável, sem pulgas, em jejum e com a vacina Antirrábica em dia, Xaiane se dirigiu até o local para garantir a saúde e bem-estar do seu pet, mas saiu de lá com a notícia da morte de Flora.

“Eu cheguei lá às 7h20 da manhã, Flora só entrou para ser operada às 13h17. Peguei a ficha 32, ou seja, tinham outros 31 animais na frente dela, para um procedimento que dura de 30 a 40 min. Preenchi a ficha com os meus dados e fiquei aguardando. Durante esse tempo, alguns animais foram devolvidos sem realizar o procedimento, na justificativa de aparentarem estar doentes”, relata a tutora.

Segundo Xaiane, até então, ela achava que era feito algum tipo de triagem, já que esses animais haviam sido devolvidos aos seus devidos tutores por não estarem aptos para realizar a castração.

“1h17, foi a última hora que eu vi Florinha viva. Quando eles entravam lá [na unidade móvel de castração], a gente não sabia o que acontecia, eles só levavam o animal na caixinha e depois eles devolviam ela vazia para gente e a gente aguardava”, explica.

A tutora de Flora menciona que, até o momento, nenhum gato havia ido a óbito, mas que tinha um, em especial, que estava em observação. “Tinha um em específico de uma moça que estava na observação, porque não conseguia acordar e eles só devolviam os gatos quando eles conseguiam acordar. Essa moça ficou lá até a hora que eu sai esperando seu animal acordar”.

Ela ainda conta que, após o tempo de espera do procedimento de Florinha, ela foi chamada para dentro da unidade móvel, mas que não estava preparada para o que estava por vir. “Quando me chamaram eu nem imaginava que tinha acontecido alguma coisa com a gata, porque eu tinha pedido o atestado de comparecimento, já que eu tinha faltado no trabalho. Até então achei que era para assinar algum documento de atestado”.

Neste momento, no entanto, quem aguardava por Xaiane não era flora, ou seu atestado, era o veterinário responsável.

“Quando o doutor veio, ele fechou a porta. Nisso que ele fechou a porta, eu já entrei de desespero. Eu já falei: ‘O que que aconteceu?’ e ele me perguntou: ‘Como é Flora dentro de casa?’ e eu respondi que, até então, ela nunca havia apresentado nada, que era uma gata saudável, com vários picos de energia, principalmente a noite. E ai ele me perguntou se ela tinha episódios de espirro ou coriza e eu respondi que não. E realmente a minha gata nunca apresentou nenhum tipo dos sintomas que eles estavam mencionando porque eu era muito observadora com ela. Geralmente, a gente sabe quando o animal tá doente. A alimentação de Flora estava normal, um dia antes ela tinha comido normalmente, ela bebia muita água também, ela comia direitinho”, detalha Xaiane.

O veterinário responsável chegou a dizer que a castração ocorreu muito bem, entretanto, Flora não estaria respondendo após o procedimento. “O médico disso que durante a cirurgia, eles notaram que respiração e o coração dela estava bem diferente e que eles estavam fazendo o mesmo tratamento para gatos com covid, que estavam respirando por ela, e que estavam tentando de tudo. Ai eu entrei em desespero”.

Xaiane relata um dos piores momentos da vida dela, onde, no desespero, ela não sentia as pernas e o corpo todo formigava. “5 minutos depois disso eles vieram com a notícia que ela não conseguiu resistir”.

“Eu não sabia o que fazer, eu não sabia se eu levava o corpo para casa, eu nem sabia que tinha que fazer necrópsia, eu não sabia de nada e a todo momento eu falava para eles: ‘O que que eu faço? O que que eu faço?’ Eu entrei em desespero. Assim que eu me despedi dela, eles me deram a opção de levar ela comigo ou de deixar o corpo lá para descarte. Quando eles me entregaram flora morta, eu não aguentei ver aquela cena. Foi horrível e eu só pedia desculpa a ela porque eu me sentia culpada por ter levado ela naquele lugar”, conta.

Em casa, e com auxílio de sua mãe, Xaiane diz que elas ligaram para a veterinária que já havia cuidado de outros de seus animais, e que, por aconselhamento da profissional, decidiram fazer uma necrópsia, pois a mesma acreditava que tudo isso poderia ser efeito da anestesia utilizada pelo Castramóvel, que normalmente é a injetável e não a inalatória, mais segura para os animais.

Ao tentar reaver o corpo de sua gata, ela foi informada que o mesmo já havia sido descartado no lixo biológico da clínica. Após todo essa confusão, ela decidiu expor nas suas redes sociais o acontecido e comentar nas publicação do Instagram da Dipa.

“Eles apagaram meus comentários e os de várias outras pessoas que também estavam relatando negligências por parte do Castramóvel. Apesar disso, entraram em contato comigo dizendo que eu poderia buscar um laudo na clínica Vida Animal, mas toda vez que eu ligo para lá eles dizem que vão me retornar e nunca retornam. Fiquei de buscar a documentação hoje [sexta-feira]”, finaliza.

O que diz os órgãos responsáveis

A reportagem procurou a assessoria da Dipa e da Secis que informou que qualquer mutirão de castração promovido pela pasta segue as orientações e normativas do Conselho Federal de Medicina Veterinária – CFMV.

“Todas as medidas de segurança e cuidados veterinários são adotadas rigorosamente, visando a saúde e o bem-estar dos animais. Em situações como a que envolveu o óbito informado, a política adotada pela clínica responsável pelo Castramóvel preconiza que, em caso de falecimento durante o procedimento, o tutor do animal é imediatamente informado. O tutor, então, tem a opção de decidir entre levar o corpo do animal para o devido sepultamento ou autorizar que a clínica realize o descarte técnico do cadáver, conforme as normas sanitárias. No caso em questão, a responsável pelo animal optou pelo descarte realizado pela própria clínica, conforme preconizado pelos protocolos técnicos. A clínica também convidou a tutora para uma conversa, com o objetivo de esclarecer os fatos de forma transparente, reconhecendo a importância de um diálogo aberto, e sem, de forma alguma, inviabilizar sua razão ou a dor vivida pelo ocorrido”, diz a nota enviada à redação.

O documento ainda frisa que a Secis, por meio da Dipa, esclarece que não tem recebido queixas excessivas relacionadas a óbitos ocorridos na clínica Vida Animal, responsável pelo Castramóvel, contrariando os diversos comentários em suas redes sociais.

A secretaria diz também que lamenta profundamente o falecimento de Flora, sabendo da importância dela para a família e reitera seu compromisso com a saúde pública e o bem-estar animal.

A vereadora da causa dos animais, Marcelle Moraes, anteriormente titular da Secis, também foi procurada pela reportagem, mas até a publicação da mesma, não obteve resposta.

Foto: Bruno Concha/Secom PMS

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