A Independência da Bahia foi um processo que se estendeu de 19 de fevereiro de 1822 e encontrou seu desfecho apenas em 2 de julho de 1823, portanto iniciado antes da Proclamação da República e concluído apenas quase um ano depois da Independência do Brasil. Se a história brasileira se pauta pela “negação dos ódios” e dos processos traumáticos de ruptura, como aponta o historiador Leandro Karnal, a independência do nosso estado aponta a uma negação dessa falácia, apontada pelo intelectual gaúcho, pois, para que os portugueses fossem expulsos da Bahia houve batalhas sangrentas, na terra e no mar.
Ainda no ano de 1821, duas forças se colidiam e dessa tensão deu-se o panorama da Independência da Bahia. No período, a Revolução do Porto repercutiu por aqui, alimentando o desejo pela independência. Dentre as demandas dos revolucionários lusitanos, estava o imediato retorno da Família Real a Portugal. A inspiração liberal do movimento fez com que grupos favoráveis à Independência do Brasil vissem no contexto gerado pelo movimento uma perspectiva para que a então colônia aspirasse à sua independência.
“Na Bahia, havia uma série de portugueses restauradores que queriam que o Brasil se mantivesse ligado a Portugal (….) [e, inclusive,] que o Brasil deixasse de ser reino unido a Portugal e voltasse a ser colônia”, considera o historiador Eduardo Bueno, em vídeo sobre o assunto disponível no You Tube. “Havia, por outro, lado os que queriam a República”, observa o historiador, numa referência a fatores que estavam presentes na Conjuração Baiana (1798). “Depois do 7 de Setembro de 1822, que foi uma composição razoavelmente tranquila, (…) [na qual] não teve quase que nenhum derramamento de sangue[deu-se a Independência da Bahia]”, prossegue o estudioso, observando que o panorama na Bahia, de maneira diversa do que se verificou no sul/sudeste do país, foi de sangue, guerra e cerco à cidade de Salvador.
Uma das figuras-chave da guerra de independência da Bahia foi Maria Quitéria, que se vestia como um soldado, disfarçada de homem, para lutar pelos seus ideias. “Apenas depois da guerra se descobriu que ela era uma mulher”, prossegue Bueno. Joana Angélica, por sua vez, seria uma das primeiras mártires do movimento, por proteger revolucionários que haviam se refugiado no convento do qual ela era abadessa. A religiosa ficou na porta do convento, para impedir que os portugueses massacrassem os insurrectos, atitude que lhe custou a vida.
As grandes figuras do movimento, porém, foram as populações baianas, em especial os índios e negros que lutaram pela independência com a esperança de um novo estado de coisas, com a expulsão dos portugueses. Porém, após tanto sangue vertido e tanta guerra, o país que nascia, agora independente, quase 200 anos depois, ainda não fez justiça aos afro e indiodescendentes, com a gritante desigualdade social ainda marcante na vida brasileira. Sintomático em relação ao assunto é a abolição da escravatura, que se deu apenas décadas depois da Independência do Brasil e da Bahia, em 1888.
Em tempo: os colchetes indicam a edição do redator na fala do professor de história, dada a situação na qual se deu a coleta do depoimento, pautada pela oralidade.