O Banco Central (BC) avaliou nesta terça-feira (17) que a disparada do dólar, com cotação acima de R$ 6 nas últimas semanas, em conjunto com a percepção dos agentes econômicos sobre o anúncio do pacote fiscal, que “afetou, de forma relevante, os preços de ativos” (como dólar e juros futuros) foram determinantes para a puxada na taxa de juros. A informação consta na ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), colegiado responsável pela definição da taxa básica de juros.
“Lembrou-se que o repasse do câmbio para os preços aumenta quando a demanda está mais forte, as expectativas [de inflação] estão desancoradas [acima das metas] ou o movimento cambial é considerado mais persistente. Desse modo, o Comitê deve acompanhar de forma mais detida como se dará a transmissão da taxa de câmbio e das condições financeiras para preços e atividade”, avaliou o Banco Central.
Nesta segunda (16), o Banco Central decidiu ser mais ativo e interveio duas vezes para tentar conter a alta da taxa de câmbio, por meio de vendas de dólares no mercado à vista (US$ 1,6 bilhão) e com leilão de linha (US$ 3 bilhões), este último um tipo de empréstimo de dólares. Mesmo assim, a taxa de câmbio fechou em R$ 6,09, novo recorde.
Sobre a proposta de pacote fiscal anunciada pelo governo, que gerou tensão no mercado financeiro, o BC avaliou que a “percepção dos agentes econômicos afetou, de forma relevante, os preços de ativos, assim como as expectativas especialmente o prêmio de risco, as expectativas de inflação e a taxa de câmbio”.
“De fato, as expectativas de inflação, medidas por diferentes instrumentos e obtidas de diferentes grupos de agentes, elevaram-se em todos os prazos [após a divulgação do pacote], indicando ‘desancoragem’ adicional. Nota-se que tanto o prêmio de inflação extraído dos instrumentos financeiros quanto as expectativas de inflação se elevaram no período, tornando o cenário de inflação mais adverso e requerendo uma política monetária mais contracionista [alta maior dos juros]”, informou o BC.
O mercado reagiu mal ao pacote porque o governo incorporou, além dos cortes de gastos esperados pelo mercado financeiro, aumento da faixa de isenção do Imposto de Renda das Pessoas Físicas (IRPF) de dois salários mínimos para até R$ 5 mil. Segundo analistas, a ampliação da faixa de isenção favorece 32% dos trabalhadores que ganham mais, justamente aqueles que recebem acima de dois salários mínimos. Por fim, o BC avaliou que, diante desse cenário mais adverso para a economia, “houve uma deterioração adicional no cenário de inflação, como refletido nas expectativas e projeções de inflação”.
“Concluiu-se que os determinantes de prazo mais curto, como a taxa de câmbio e a inflação corrente, e os determinantes de médio prazo, como o hiato do produto e as expectativas de inflação, se deterioraram de forma relevante. Tal piora demanda uma política monetária ainda mais contracionista [alta maior dos juros]”, avaliou o Banco Central. (G1)
Foto: Rafa Neddermeyer/Agência Brasil