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FILME-RITUAL “AMA MBA’É TABA AMA” CONTARÁ HISTÓRIA DE INDÍGENAS DA ALDEIA TUPINAMBÁ DE OLIVENÇA

João Paulo - 05/12/2024 09:40

Quando criança, a líder indígena Nádia Akawã Tupinambá, de 56 anos, da Aldeia Tukum Tupinambá, no distrito de Olivença, em Ilhéus, no litoral sul da Bahia, não imaginava o impacto profundo que a própria família teria na trajetória de vida. Desde pequena, via a avó, D. Maria Cozina, e a mãe, D. Maria Vitória, prepararem remédios naturais com ervas da floresta. Ambas, Mulheres Medicina, realizavam rituais de autocuidado com as mulheres da aldeia, enquanto o pai, Sr. Noel, atuava como curandeiro. Na vida adulta, Nádia decidiu seguir o legado familiar, praticando os ensinamentos herdados de seus ancestrais. Com o despertar da vocação como Mulher Medicina, iniciou rituais com a planta comigo-ninguém-pode e, hoje, amplia seu trabalho utilizando folhas como artemísia, babosa e entrecasca do caju.

Aos 24 anos, com o nascimento da primeira filha, Naina Iraê, Nádia descobriu a paixão pela arte de ensinar. “Inspirada pela minha filha, me tornei educadora. A educação exige alguém que cuide e trabalhe como se estivesse cuidando de um filho. Educação é cuidado, empatia e, acima de tudo, confiança. Por causa dela, decidi fazer o magistério,” conta. Assim, iniciou a trajetória como professora, atuando com crianças e na Educação de Jovens e Adultos (EJA). Atualmente, contribui para a formação de professores que trabalham em escolas indígenas de várias aldeias da Bahia, como as Tupinambá e Pataxó Hã-Hã-Hãe. A dedicação à educação na comunidade a consolidou no papel de líder indígena.

Em breve, a história da educadora e Mulher Medicina será contada no filme-ritual “Ama mba’é Taba Ama”, que dirige junto à cineasta Gal Solaris. O documentário abordará a jornada de Nádia e mais cinco indígenas da Aldeia Tukum Tupinambá — Dona Lourdes, Carcará, Cipó, Pytuna e Cacique Ramon Ytajibá Tupinambá — explorando as perspectivas e os desafios que enfrentam perante a sociedade. O título, que significa “Levanta essa aldeia, Levanta” em tupi, também nomeia um canto ritual, representando as lutas dos povos originários contra a invasão das próprias terras. Previsto para o primeiro semestre de 2026, o documentário trará temas essenciais para os Tupinambás de Olivença, como a demarcação do território indígena de 47 mil hectares, composto por 23 aldeias, e a realização da 24ª Peregrinação Tupinambá, em Ilhéus.

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil possui mais de 1,6 milhões de indígenas (2022). Ainda de acordo com o IBGE (2010), são 306 etnias e 282 línguas indígenas faladas. A relevância sobre a escolha da Aldeia Tukum Tupinambá para o cenário do filme-ritual é ressaltada pela cineasta Gal Solaris. “Os Tupinambás tem importância histórica para o país por terem sido os primeiros povos a terem contato com os colonizadores de 1500. Serão apresentados rituais que ainda seguem sendo feitos nas Aldeias de Olivença e que reúnem indígenas locais e de outros povos. Para os dias atuais, é um filme com a oportunidade de mostrar as dificuldades dos indígenas diante do processo de urbanização das cidades e a redução dos territórios considerados “sagrados”” destaca a cineasta.

Este projeto foi contemplado nos Editais da Paulo Gustavo Bahia e tem apoio financeiro do Governo do Estado da Bahia através da Secretaria de Cultura via Lei Paulo Gustavo, direcionada pelo Ministério da Cultura, Governo Federal. Paulo Gustavo Bahia (PGBA) foi criada para a efetivação das ações emergenciais de apoio ao setor cultural, visando cumprir a Lei Complementar nº 195, de 8 de julho de 2022.

Premiação

O projeto do filme-ritual “Ama mba’é Taba Ama” saiu como o maior vencedor do 8º Encontro de Coprodução do Mercado (ECM+LAB), evento do mercado audiovisual que ocorreu no 28º Festival Internacional de Cinema Florianópolis Audiovisual Mercosul (FAM), em Santa Catarina, com quatro premiações. A proposta do documentário foi vencedora dos seguintes prêmios: Seleção de projeto brasileiro para receber Consultorias Paradiso Multiplica 2024; Seleção para participar do Mercado Audiovisual Centro Oeste (SAPI); Prêmio Transforma e Urca Filmes; e Consultoria de campanha ao Oscar ou internacionalização com Juliana Sakae.

Recebida no último mês de setembro, a premiação contribui para o trabalho de finalização e de venda dos projetos audiovisuais. Após participar do LAB, nos meses de julho e agosto deste ano, que promoveu encontros com a presença de especialistas para ajudar na elaboração do projeto e na divulgação do filme-ritual, a equipe de direção foi selecionada para estar no 8º ECM.

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