A vitória de Donald Trump nas eleições presidenciais dos Estados Unidos levou a um rali nas ações e títulos do Tesouro Americano (também conhecidos como “treasuries”), um movimento que ficou conhecido no mercado como “Trump Trade”. Com a política econômica do novo governo, que pode levar a uma inflação nos EUA e ao consequente aumento da taxa de juros pelo Banco Central americano (o Federal Reserve, Fed), a expectativa é que o cenário seja favorável ao investimento externo, principalmente na renda fixa. No entanto, os analistas lembram que, com a alta da taxa Selic, muito mais do que a renda fixa americana, a brasileira pode ser a melhor opção neste momento.
Especialistas dizem que o momento deve ser de cautela para os investidores, já que os possíveis cortes de impostos corporativos e as tarifas protecionistas prometidas por Trump, principalmente em relação à China, tendem a aumentar a dívida pública americana. “Se isso acontecer, o Fed vai ter mais dificuldade de acelerar o corte de juros que era previsto. Quando começou o ciclo de afrouxamento monetário, um pouco antes da eleição, os títulos americanos chegaram a ser negociados com retorno de 3,70%, e isso gerou bons ganhos na renda fixa. Mas hoje esses papéis voltaram aos níveis de antes do início do corte das taxas de juros, muito pelo que o mercado está chamando de ‘Trump Trade’”, explica Marcel Andrade, chefe de soluções de investimento da SulAmérica Investimentos.
Na visão dele, a previsão no momento não é de que a taxa de juros americana suba, mas caia 0,25 ponto percentual na próxima reunião do Fed. Atualmente, ela está entre 4,75% e 4,50%. O que se espera, porém, é que o ciclo de corte seja mais lento, já que, num primeiro momento, a economia americana deve continuar mostrando pujança com as medidas protecionistas de Trump, o que pode levar a um cenário de aceleração.
O movimento é contrário ao momento de recessão (também conhecido como “hard landing”) esperado pelo mercado depois do processo inflacionário que aconteceu no mundo a partir de 2022, quando os títulos de dez anos do Tesouro americano passaram a ser negociados por volta de 5%. Depois de anos próxima de zero, o Fed começou a subir a taxa de juros, que chegou ao nível máximo de 5,50% em 2023, atípico para o país, que costuma ter taxas muito baixas.
“O que parecia uma oportunidade [de investir em títulos americanos] semanas antes da eleição, hoje vemos com uma relação risco/retorno não tão favorável assim, mesmo que o nível da taxa de juros pareça atrativo”, ressalta Andrade. “No curto prazo é esperar para ver até aonde as medidas do Trump vão impactar a inflação e até aonde o Fed vai reagir. Depois, se o investidor sentir que as taxas vão voltar a cair, é o momento de comprar e montar alguma posição”, completa o economista.
Isso porque os títulos públicos americanos são prefixados, eles não mudam de acordo com a variação da taxa de juros. Portanto, se a taxa americana for cair, ele investe antes, com um retorno maior, e embolsa essa diferença de retorno.
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