Foram anos morando de aluguel e lidando com reajustes de valor crescentes a cada ciclo, até que Catharine Nunes e o marido decidiram se organizar para realizar o maior sonho dos brasileiros: comprar a casa própria. “Para morar num lugar seguro, é preciso pagar por isso, mas os preços estão subindo mais e muito rápido. Colocamos na ponta do lápis e vimos que valia mais a pena investir em algo nosso”. O casal, que morava em São Caetano, comprou um apartamento na planta, em Piatã. O imóvel deve ser entregue em 2026 e, até lá, os dois têm feito adaptações no orçamento doméstico. “Tivemos que cortar muitas coisas, mas vai valer a pena”, afirma Catharine.
O aumento acumulado nos aluguéis em 2024 chegou a 10,18%, superando em mais de quatro vezes a inflação oficial do País (de 2,5%), de acordo com o Índice FipeZap. Salvador foi a segunda capital com maior aumento, com um aluguel 18,8% mais caro, atrás apenas de Campo Grande (MS), que subiu em 31,3%. Um estudo de inteligência imobiliária realizado pela Apsa sobre os valores de aluguéis de imóveis de um a quatro quartos, nos principais bairros da cidade, em agosto, mostrou que o valor médio foi de R$ 51,11 por metro quadrado, ou seja, R$ 5.111 para uma residência de 100 m². Esse valor médio é 2,92% maior do que a média de julho, 5,21% do que o verificado há três meses, 6,63% maior do que a média de seis meses atrás e, no anual, o aluguel já está 21,49% mais alto.
Ondina (R$ 86,99/m²) e Barra (R$ 77,35/m²) são os endereços com maior aumento de preço na capital. “São bairros que têm recebido novas áreas de lazer e melhoria na infraestrutura. Com isso, as construtoras aproveitaram para construir novos empreendimentos”, explica Alan Galvão, gerente de imóveis da Apsa, em Salvador. Segundo ele, os aluguéis de imóveis novos na região são até 30% maiores do que os dos prédios mais antigos. Galvão ressalta, no entanto, que os números são estimativas médias, e que o valor final de um aluguel depende de fatores para além da localização. “A demanda de cada bairro influencia nesse preço, assim como a qualidade do imóvel em relação à planta, ou seja, metragem, disposição dos cômodos, o estado de conservação, o número de quartos, localização específica dentro do bairro, o valor do condomínio, as áreas de lazer, os serviços da região, como comércio, escola, hospitais, etc. O aluguel de unidades de alto padrão, por exemplo, custam até 0,6% do valor do imóvel. E, além desses fatores, a urgência do proprietário em alugar também pode resultar em descontos maiores.”
No mercado, no entanto, há a expectativa de que esses números tenham um reflexo no crescimento da compra de imóveis. “O efeito psicológico advindo do aumento do aluguel para quem vive como inquilino desperta o interesse na aquisição imobiliária. Não por acaso, tivemos no primeiro semestre deste ano, em que houve um aumento de 9,3% no preço dos aluguéis, crescimento das vendas de 15,2%”, comenta Jason Morais, economista especialista em crédito imobiliário e coordenador da MRV para a Bahia e Pernambuco. O desejo de ter a casa própria ainda é o maior sonho de 87% dos brasileiros, de acordo com uma pesquisa de 2022 da Quinto Andar com o Instituto Datafolha e, para Morais, isso se explica pelo fato de que o imóvel é o maior investimento tangível realizado ao longo da vida das pessoas. “Isso é realidade, sobretudo, para aquelas famílias que vieram do aluguel, que realizam esse investimento com a perspectiva que adquiriram um ativo de potencial valorização, em detrimento à renúncia da maior despesa orçamentária familiar”, diz ele.
Para realizar esse sonho, o economista orienta mapear o próprio potencial de investimento, colocar a renda e as despesas na ponta do lápis, e direcionar o capital disponível para o imóvel que caiba nessas contas. “É sempre válido procurar um corretor de imóveis, que são remunerados pelo vendedor e não pelo comprador. Não se deve ter receio ou vergonha de buscar ajuda antes de realizar o maior investimento de sua vida”, orienta.
Quem for procurar financiamento deve ficar atento às novas regras da Caixa Econômica Federal. Responsável por quase 70% dos financiamentos imobiliários do País, a Caixa decidiu reduzir o valor máximo de crédito para a compra de imóveis pelo SBPE (Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo), que engloba propriedades de até R$ 1,5 milhão. A partir de 1º de novembro, a cota máxima de financiamento admitida será de até 70% do valor do imóvel, e não mais os atuais 80%, no sistema de amortização SAC (Sistema de Amortização Constante), no qual as parcelas são maiores no início e menores no fim, por causa da diminuição progressiva dos juros. Na prática, isso significa que os compradores terão que dar uma entrada maior.
As novas regras vão impactar financiamentos para imóveis residenciais (novos e usados) e comerciais, além de empréstimos para construção e compra de lotes urbanizados. Outra mudança é que os clientes poderão ter apenas um financiamento imobiliário ativo com o banco. Em nota, a Caixa afirma que as medidas observam a demanda e o orçamento para crédito habitacional aprovado para o ano de 2024. “Com o crescimento da nossa carteira, prevemos que a mesma irá superar o limite máximo projetado para o período”, diz o banco federal.
Foto: Xando Pereira/Ag. A TARDE