O chamado Enigma Baiano foi tema do encontro realizado na quinta-feira (10) pela AGGEB – Associação dos Gestores Governamentais da Bahia – no auditório da Secretaria do Planejamento do Estado – que reuniu três importantes pensadores a respeito do passado, presente e futuro da economia de nosso estado: Gustavo Pessoti, Reinaldo Sampaio e Edgard Porto. O evento contou com as presenças do secretário do Planejamento Cláudio Peixoto, também associado da AGGEB, e do presidente da entidade, Thiago Xavier, que integra o quadro executivo da Secretaria.
Para Thiago Xavier, “o Enigma é ter um estado com o tamanho, a diversidade, as condições especiais como nossas duas grandes baías, a Chapada Diamantina, nossa condição climática, e não utilizar todas essas potencialidades para que não haja pessoas na Bahia sem ter acesso às condições básicas de sobrevivência Precisamos avançar e entender como o Estado pode aproveitar melhor esses fatores. E nesse particular a participação dos EPPGGs pode ser fundamental”, disse.
A organizadora do evento, Valéria Peruna, diretora de Estudos e Pesquisas da AGGEB, lembrou que o termo Enigma Baiano foi citado a primeira vez pelo pensador Manoel Pinto de Aguiar, que na década de 1950 publicou o livro O Enigma Baiano para tentar entender os motivos da estagnação econômica do estado na primeira metade do século XX.
“E até agora esse questionamento continua válido e atual, tanto que, nos grupos de discussão interna de gestores, temos acaloradas discussões a esse respeito. Por isso o colega EPPGG Adriano Oliveira, sugeriu convidar especialistas que também são ou foram funcionários públicos para dar uma palavra mais abalizada a respeito desse tema fundamental para pensarmos no futuro da Bahia” disse Peruna, destacando que Gustavo Pessoti é EPPGG e os três convidados já ocuparam funções importantes dentro da máquina pública estadual.
Otimismo e Realismo
O tom das falas dos três palestrantes oscilou entre a constatação de que a economia baiana não tem avançado significativamente nos últimos anos devido a fatores históricos somados aos impactos negativos da COVID-19 e a apresentação de chaves para a retomada do crescimento em campos como a infraestrutura logística, a agricultura familiar e empresarial, o setor mineral, as energias renováveis e a economia solidária e popular.
O alargamento do horizonte do Plano de Desenvolvimento Integrado – PDI para 2050, diretriz central da gestão do secretário Cláudio Peixoto na Seplan, foi destacado pelo economista Gustavo Pessoti, tendo como referência a apresentação realizada pelo secretário na Semana do Economista promovida pelo CORECON, no último mês de agosto. “A Seplan está agora, nesse momento, discutindo esse processo do PDI, de como ele ressignifica a economia baiana. E dentro do que o secretário destacou, tem vetor com capacidade de promover mudança estrutural e alavancagem do crescimento econômico. O PDI 2050 é, digamos assim, a consolidação de uma proposta de desenvolvimento que vai levar em consideração setores que podem realavancar a economia baiana, principalmente, a partir das vocações territoriais, mas também a partir de setores estruturais com possibilidade de geração de emprego e renda”.
Reinaldo Sampaio, dirigente de entidade empresarial, economista e ex-presidente do CORECON, iniciou dizendo-se conduzido entre o otimismo do desejo e o pessimismo da razão ao refletir sobre as possibilidades de superação dos desafios sócio-econômicos da Bahia. Em seguida fez um retrospecto do processo histórico da formação econômica da Bahia, que, não sua visão, originaram o atual estágio de desenvolvimento e a preservação de graves indicadores de desigualdades sociais.
“A construção histórica que gestou tais desigualdades e relativo atraso econômico decorreu do fato de haver sido preservado um modelo econômico agrário-exportador de viés escravista, desde o Sec. XVI até a metade do Sec. XX, seguindo-se um processo de industrialização tardio e incompleto”, disse.
Falando sobre a emergência das questões sociais , ele considerou que a agricultura familiar e a economia solidária e popular devem ser frentes de ação de políticas públicas que poderão mitigar os efeitos do desemprego e da pobreza.
Já o doutor em Planificação Territorial e Desenvolvimento Regional Edgard Porto vê possibilidades de saída desse dilema apostando em setores como logística, redução da emissão de carbono e na gestão do aparato estatal de forma integrada para apoiar a geração de riqueza no estado.
“Infelizmente estamos reproduzindo até hoje todos as motivações que mantém boa parte da população baiana na pobreza. Precisamos encontrar saídas para modificar essa situação e para isso temos que buscar alternativas viáveis e sustentáveis para gerar mais empregos, nem que seja através de programas de renda mínima, que podem se tornar inevitáveis devido à configuração internacional da economia”, declarou Porto.
Fotos: Lucas Silva – Ascom/Seplan