Nos últimos anos, a medicina conquistou grandes avanços no tratamento de lesões coronárias calcificadas, uma condição que afeta milhões de pessoas ao redor do mundo e que representa um forte indicativo de doenças cardíacas graves. As calcificações coronárias ocorrem quando o cálcio, normalmente presente no corpo para fortalecer os ossos, se acumula nas paredes das artérias coronárias, endurecendo-as e dificultando o fluxo sanguíneo. Embora o acúmulo de cálcio seja um fator de risco conhecido, ainda existem dúvidas sobre a possibilidade de reverter essa condição por meio de medicação. No entanto, novas técnicas minimamente invasivas oferecem esperança e solução para pacientes com aterosclerose avançada.
A aterosclerose avançada, caracterizada pelo acúmulo de placas de gordura e cálcio nas artérias, pode causar sintomas como dor no peito (angina), falta de ar, fadiga e, em casos graves, infarto do miocárdio ou acidente vascular cerebral (AVC). O diagnóstico de calcificações coronárias geralmente é realizado por meio de exames de imagem, como a tomografia computadorizada de artérias coronárias, que avalia a quantidade de cálcio presente e determina o escore de cálcio coronariano. A angiografia coronariana e o ecocardiograma também são utilizados para avaliar a gravidade da obstrução e planejar o tratamento adequado.
Segundo o cardiologista intervencionista Sérgio Câmara, para tratar as calcificações coronárias, uma abordagem inicial envolve mudanças no estilo de vida, como dieta e exercícios, além do uso de medicamentos para controlar colesterol, pressão arterial e diabetes. Contudo, em casos mais avançados, são necessários procedimentos intervencionistas. “A angioplastia coronária, procedimento comumente utilizado para desobstruir artérias, agora conta com estratégias específicas para tratar lesões calcificadas”, explicou.
Uma das técnicas mais promissoras que surgiu recentemente é a litotripsia intracoronaria, que fragmenta o cálcio utilizando a pressão de ondas acústicas. Após a insuflação do cateter balão na coronária, o dispositivo é ativado e são emitidas ondas sonoras que quebram as calcificações existentes e possibilitam o implante ótimo do stent. Outro recurso avançado utilizado no campo do preparo das lesões calcificadas é a aterectomia rotacional, que utiliza uma ferramenta rotativa com ponta de diamante capaz de pulverizar o cálcio em pequenas partículas. Essa técnica é particularmente útil em casos de calcificação severa, onde outras formas de dilatação podem não ser eficazes. O procedimento é realizado com alta precisão e tem como objetivo restaurar o fluxo sanguíneo nas artérias afetadas, contribuindo para a melhora da qualidade de vida dos pacientes.
Para Sérgio Câmara, que é especialista neste tipo de intervenção, essas técnicas representam um avanço significativo no manejo das lesões coronárias calcificadas. “Embora a reversão completa do cálcio ainda seja uma questão em aberto na literatura médica, as tecnologias que temos hoje permitem tratar essas lesões de forma eficaz e com menos riscos para os pacientes”, afirma Câmara. Diversos estudos indicam que pacientes com altos níveis de cálcio nas artérias coronárias têm um risco até cinco vezes maior de sofrer eventos cardiovasculares graves em comparação com aqueles com níveis mais baixos. Isso reforça a necessidade de tratamentos eficazes e minimamente invasivos para manejar esse tipo de condição.
Ainda segundo o cardiologista intervencionista, embora os avanços sejam promissores, a remoção do cálcio das artérias não substitui a necessidade de cuidados contínuos e da adoção de um estilo de vida saudável. “Fatores de risco como hipertensão, colesterol elevado e diabetes devem ser rigorosamente controlados para prevenir a progressão da aterosclerose e evitar novas complicações”, afirmou Sérgio Câmara. “Nossa expectativa é que, com o contínuo desenvolvimento das tecnologias, o futuro do tratamento cardíaco seja cada vez mais promissor”, concluiu o médico.