A chegada, nos próximos anos, do VLT de Salvador tende a mudar a lógica do transporte na capital baiana, aproximando o modelo soteropolitano daquele que já acontece nas grandes cidades do mundo. Isso porque já em dezembro, a maioria das paradas do novo modal não terá catracas de acesso aos trens. De acordo com o planejamento da Companhia de Transportes do Estado da Bahia (CTB), a ideia é que os trens do VLT tenham validadores internos. Ou seja: o passageiro entraria no vagão e teria que, voluntariamente, se dirigir a uma máquina e aproximar seu cartão de passagem da tela, pagando a tarifa. Esse é o modelo existente na maioria das grandes cidades da Europa que possuem VLT — ou “tram”, como chamam por lá —, mas também no Rio de Janeiro, que é visto pelo governo da Bahia como uma referência para a implantação da ideia em Salvador.
Em entrevista ao Portal A TARDE, a presidente da CTB, Ana Cláudia Nascimento, confirmou que a ideia é não ter bloqueios com catracas na maioria das paradas do VLT, aplicando o modelo de pagamento voluntário no modal, com fiscalização interna nos trens. “A ideia é que tenhamos validadores dentro dos trens e que só algumas estações tenham bloqueio. Principalmente, as estações maiores e as de ponta. A parada de Paripe, por exemplo, que a gente entende que terá uma demanda maior. Aqui na Calçada também teríamos catracas. Mas a maioria seria com um cartão sendo validado dentro do trem”, disse Ana Cláudia. “Obviamente, com fiscalização embarcada. De vez em quando, o fiscal vai entrar e verificar se seu bilhete foi validado. Com essa proposta, a gente ganha tempo para as pessoas e a gente vai mudando a forma de trabalhar o transporte”, acrescentou a presidente da CTB.
Além da Estação Calçada e de Paripe, também deve haver catracas em Periperi, Ilha de São João, Águas Claras e Bairro da Paz. Nas outras 29 paradas do VLT, porém, os usuários poderão acessar o trem livremente.
O Portal A TARDE já havia revelado que, no VLT Carioca, o percentual de inadimplência é estimado pela concessionária local em 14%. Na avaliação da CTB, a tendência é que o número seja semelhante em Salvador. “É óbvio que a gente acaba pegando referências de outros estados para adotar. A gente vai buscar esse número, provavelmente com o VLT do Rio, pelas características semelhantes das cidades e também por não ter bloqueio. Então, a gente deve adotar um percentual de inadimplência parecido”, confirmou Ana Cláudia.
Para inibir aqueles que podem pensar em usar o VLT sem pagar a tarifa, a ideia do governo é estabelecer uma multa alta, entre R$ 300 e R$ 500, para aqueles que adentrarem aos vagões e não pagarem a passagem nos validadores. No Rio, os valores variam de R$ 170 a R$ 255. A fiscalização, a ser realizada pela operadora do sistema, ficará responsável por determinar a sanção, a ser aplicada pelo Poder Público. “Da mesma forma que a gente aceita uma certa inadimplência, a gente tem que investir, por outro lado, na fiscalização, para gerar uma mudança de hábito na população. Na hora que ele burlar a tarifa de transporte e tiver que pagar uma multa de R$ 500, ele vai aprender que nunca mais deve fazer isso”, argumentou a presidente da CTB.
Tudo isso, porém, ainda pode passar por mudanças. Neste momento, enquanto as empresas responsáveis pela construção do modal trabalham em seus canteiros de obras, o governo de Jerônimo Rodrigues (PT) tem debatido justamente a operação do sistema, incluindo o modelo de cobrança. Apesar da gestão estadual, por motivos de segurança jurídica, não confirmar, a tendência é que a operação do VLT de Salvador seja realizada pela CCR Metrô Bahia, cumprindo a ideia de integrá-lo totalmente ao Sistema Metroviário de Salvador e Lauro de Freitas (SMSL). Nos bastidores do governo, o novo modal também tem sido tratado como uma espécie de “linha 3 do metrô”.
Foto: Divulgação | ANP Trilhos