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NOVOS MODELOS FAMILIARES REPRESENTAM MAIS DE 50% DAS FAMÍLIAS BRASILEIRAS

João Paulo - 02/05/2024 13:40

Mãe solo, pai solo, filhos com duas mães ou dois pais, famílias coparentais (quando há o desejo de ser pai e de ser mãe, mas sem casamento e sem relação sexual), famílias “mosaico” (aquelas em que os pais casaram mais de uma vez e têm filhos de relações anteriores e da atual). Hoje, no Brasil, a família é plural e diversa e o modelo tradicional de casal com filhos já não representa a maioria das estruturas familiares. “Além das mudanças sociais, todos os avanços da própria medicina reprodutiva têm sido fundamentais para garantir os direitos reprodutivos dos indivíduos na sociedade contemporânea”, declara a ginecologista e especialista em Reprodução Humana, Gérsia Viana, diretora do Cenafert – Centro de Medicina Reprodutiva. “O mais importante é que todas essas conquistas e a decisão de constituir uma família e ter filhos aconteçam de uma forma natural e consciente”, acrescenta.

“Os tratamentos de reprodução assistida têm um papel indispensável para que esses novos modelos familiares consigam se estabelecer, trazendo inclusão e ampliando as possibilidades de maternidade ou paternidade”, explica Gérsia.

Nos casos dos casais tradicionais com dificuldade para ter filhos, a recomendação é que a investigação da infertilidade seja realizada no homem e na mulher para a identificação da condição reprodutiva de cada um e a indicação do tratamento mais adequado. Caracterizada pela ausência de gravidez em um casal com vida sexual ativa e que não usa medidas anticonceptivas por um período de um ou mais anos, a infertilidade atinge cerca de 17,5% da população global em idade reprodutiva, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS). De acordo com a Sociedade Brasileira de Reprodução Assistida (SBRA), estima-se que cerca de 35% dos casos de infertilidade podem ser atribuídos à mulher, outros 35% são de responsabilidade do homem, 20% estão relacionados a ambos e 10% são de causas desconhecidas.

Além dos hábitos saudáveis, as consultas e exames de rotina são essenciais para a preservação da saúde reprodutiva. “Ao menor sinal de algo irregular na sua saúde reprodutiva ou mesmo quando se pretende adiar o projeto de maternidade, é importante buscar ajuda especializada para avaliar a condição reprodutiva”, orienta Gérsia Viana.

Confira abaixo mais algumas estruturas familiares e como a medicina reprodutiva pode ajudar:

Famílias coparentais

As relações coparentais são caracterizadas por duas pessoas que desejam ter um filho através de um acordo, sem um relacionamento afetivo e sem relação sexual. A médica Gérsia Viana cita a técnica de Fertilização in Vitro como uma alternativa segura para ajudar nesses casos, mas ressalta: a técnica indicada para o tratamento vai depender da idade e condição reprodutiva da mulher. “Uma paciente mais jovem e com boas condições de saúde geral e de saúde reprodutiva pode realizar a inseminação artificial, considerada uma técnica de baixa complexidade.

Famílias Mosaico

O mesmo vale para as “famílias mosaico”, quando o homem e a mulher já vieram de relacionamentos anteriores, nos quais uma das partes ou ambas tiveram filhos e, agora, desejam ter um filho na atual relação. “Em muitos casos de famílias reconstituídas, as mulheres já estão com a uma idade mais avançada e precisam de ajuda especializada para ter um filho”, explica a especialista. Ao nascer a mulher já conta com seu estoque de óvulos para a vida toda. A partir dos 35 anos, a quantidade e a qualidade dos óvulos começam a cair de forma acelerada até a falência ovariana total. “Quando a gravidez de um casal com vida sexual ativa não vem espontaneamente, mas a mulher apresenta boa condição geral de saúde, é possível contar com as técnicas de reprodução assistida, especialmente a Fertilização in Vitro (FIV), para engravidar com segurança mesmo após os 40 anos”, destaca a diretora do Cenafert.

Casais homoafetivos

Desde 2013 que o Conselho Federal de Medicina (CFM) reconhece o direito de casais homoafetivos procriarem com a ajuda dos métodos de reprodução assistida. Essa conquista veio após o Supremo Tribunal Federal (STF), em 2011, ter reconhecido a união estável entre pessoas do mesmo sexo, passando a considerá-la também como núcleo familiar.

Quando se trata de casais lesboafetivos, a gestação compartilhada, regulamentada pelo Conselho Federal de Medicina, é uma das alternativas, que permite a participação das duas mulheres na gestação do bebê. A técnica é a realizada através da Fertilização in Vitro. “O óvulo de uma das parceiras é fecundado com o sêmen de um doador anônimo e o embrião é implantado no útero de sua parceira”, esclarece Gérsia Viana.

A escolha de quem vai participar com o óvulo e quem conceberá deve ser avaliada pelo casal, criteriosamente, com a ajuda do especialista em Reprodução Humana e, em muitos casos, suporte de um psicólogo. É fundamental levar em conta a idade, reserva ovariana e histórico de doenças genética da parceira que vai ceder os óvulos. O mesmo procedimento de Fertilização in Vitro com sêmen de doador anônimo pode ser realizado com o óvulo e o útero de apenas uma das parceiras, não necessariamente com a participação física das duas.

Para os casais homoafetivos masculinos, além dos óvulos de doadora anônima, eles precisam encontrar um útero de substituição, ou cessão temporária de útero, e a mulher que cederá o útero deve ser parente de até quarto grau de um dos parceiros, ou seja, mãe, irmã, tia, prima ou sobrinha. O casal deve decidir qual dos parceiros vai ceder os espermatozoides para que seja realizada a Fertilização in Vitro com o óvulo doado e, posteriormente, a transferência para o útero da receptora.

A mulher que cederá o útero temporariamente deverá ter ao menos um filho vivo. Situações excepcionais deverão ser avaliadas e autorizadas pelo Conselho Regional de Medicina (CFM). Em alguns casos, o casal consegue autorização do CFM para que uma amiga, que comprove seu vínculo de amizade, possa ceder seu útero temporariamente e de boa fé, sem nenhuma remuneração, pois no Brasil é proibido que essa cessão do útero seja remunerada.

Família monoparental: mãe solo

“A mulher que deseja ser mãe solo pode engravidar com segurança através das técnicas de medicina reprodutiva e usando sêmen de doador”, explica Gérsia Viana.

A técnica indicada para o tratamento vai depender da idade e condição reprodutiva da mulher. “Uma paciente mais jovem e com boas condições de saúde em geral e de saúde reprodutiva pode realizar a inseminação artificial, considerada uma técnica de baixa complexidade. Já uma mulher que decide ser mãe em idade mais avançada, que dispõe de uma baixa reserva ovariana, ou apresenta obstrução tubária, vai precisar realizar uma Fertilização in Vitro”, esclarece. “Essas técnicas são feitas de modo seguro e apresentam bons resultados, mas é bom lembrar que nem sempre a gravidez vai acontecer na primeira tentativa” afirma a médica.

A paciente pode optar por bancos de sêmen nacionais ou estrangeiros. “A escolha do doador é feita com base em características físicas, genéticas e pode levar em conta até hábitos do doador”, afirma a médica. “Quando a paciente chega ao consultório ela deve passar por um aconselhamento reprodutivo com a equipe multidisciplinar da clínica, que envolve médicos especialistas em Reprodução Humana, embriologista e psicólogo”, finaliza Gérsia Viana. Outro aspecto que ela lembra é a importância da rede de apoio, com amigos e familiares, para a mulher que decide ser mãe solo.

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